A continuidade do tempo instável manteve as comunidades das ilhas de Porto Alegre em estado de alerta durante o domingo (24), quando a água chegou a 2m71cm no Cais Mauá, de acordo com a Defesa Civil da Capital. No início da manhã desta segunda-feira, segundo dados da Sala de Situação do governo estadual, a medição indica 2m73cm na mesma área — ultrapassando a cota de alerta, de 2m50cm. A projeção mostra que há tendência de alta de pelo menos um centímetro nas próximas horas. Desde a meia-noite, o nível manteve-se estável em alguns momentos, variando entre 2m72cm e 2m73cm.
Já na Ilha da Pintada, segundo a mais recente atualização de dados da Defesa Civil da Capital, divulgada às 18h de domingo, a régua manual indicava 2m42cm, 22cm acima da cota de inundação e sob comportamento de elevação. Há, conforme os alertas, uma predominância de ventos do sul, que provocam a retenção do volume de água no Guaíba.
De acordo com Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), 44 pessoas prosseguem acolhidas no Arquipélago. Destas, 16 estão na Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, na Ilha da Pintada, e 28 na Escola Estadual Alvarenga Peixoto, na Ilha Grande dos Marinheiros. A distribuição de donativos pela Defesa Civil de Porto Alegre será retomada nesta segunda-feira (25). O trabalho teve de ser interrompido no sábado (23) em razão da intensificação da chuva.
Na Ilha Grande dos Marinheiros, moradores tentavam adaptar-se ao desafio imposto pela progressão na cheia do Guaíba, buscando abrigo nos ambientes mais altos das casas enquanto vão amontoando os pertences para afastá-los da enchente.
É o encargo enfrentado na moradia dos aposentados Manoel da Silva, 75 anos, e sua esposa Tânia, 72. Mesmo com uma filha de 51 anos com necessidades especiais na residência, na Rua Nossa Senhora Aparecida, pretendem resistir aos efeitos da intempérie o quanto for possível.
— Não podemos sair. Temos receio porque entram nas casas. Recebemos rancho, estamos firmes — sinaliza a dona da casa pela janela lateral no cômodo onde se protegem, enquanto a água, no lado de fora, já atinge um nível superior aos alicerces da construção de madeira.
Decisão diferente teve que tomar a recicladora Maria Lúcia Pedroso, 44 anos, que optou por sair da casa localizada na mesma rua para não perder dias de trabalho.
— Uma prima arrumou uma pecinha para a gente ficar. Se eu ficar ilhada, não ganho o meu dinheiro e a coisa piora pra nós — diz a moradora, que estava acompanhada pela filha Mirtes, 12 anos, e carregava a cachorrinha de estimação Mila numa mochila presa ao peito.
Por segurança, os homens da família decidiram ficar na moradia, embora a inundação esteja próxima de atingir o imóvel. Na Ilha das Flores e na Ilha da Pintada, cenários como esses se reproduzem.
Na Ilha das Flores, moradores buscavam espaços menos expostos. Quando a chuva deu trégua, no meio da tarde, roupas eram estendidas nos varais, demonstrando que a rotina doméstica era mantida apesar das dificuldades do clima.
Já na Ilha da Pintada, o final da Rua Salomão Pires Abraão, onde está localizada a Colônia de Pescadores Z5, a via de tráfego já estava inundada e as calçadas eram alcançadas pelo avanço do leito do Guaíba. A poucos metros dali, o comerciante Gustavo Leal, 46 anos, dos quais 24 foram vividos e trabalhados no cenário de integração com o manancial, já havia recolhido equipamentos e estoques do armazém para mitigar eventuais prejuízos.
— Passamos freezer e produtos (do armazém) para a casa, que está num ponto mais alto do terreno. Temos que proteger o nosso trabalho, pois é o sustento da família — descreve.