A queda de usuários da Trensurb não é uma surpresa. Desde 2014, quando atingiu o pico de 58,7 milhões de passageiros no ano, o serviço vinha perdendo espaço anualmente. A pandemia, entretanto, impulsionou este fato em 2020 e 2021, quando os vagões se esvaziaram pela metade, com queda de cerca de 50% na demanda.
A situação melhorou no ano passado, conforme os dados divulgados pela Trensurb no final de janeiro. Segundo a empresa, 31.966.680 embarques foram registrados em 2022, aumento de 26,4% em relação a 2021. O número, ainda assim, é 33,4% menor do que o pré-pandemia, em 2019, quando 48 milhões usaram o serviço que liga seis cidades da Região Metropolitana.
Entretanto, ao olhar para o cenário num patamar de década, a situação é mais delicada. Entre 2012 e 2022, 19.964.197 usuários deixaram o serviço, uma redução de 38,4% — isso representa que cerca de quatro a cada 10 usuários pararam de circular nos trens da Trensurb. E, mesmo com a retomada em 2022, depois de dois anos de pandemia, atingir um número semelhante ao de 10 anos atrás parece algo distante.
Porém, se a pandemia foi um fator que acentuou a queda de usuários, o que vinha ocasionando isso antes dela e não permite que o número cresça como há uma década?
Diretor-presidente aponta motivos
O diretor-presidente da Trensurb, Pedro de Souza Bisch Neto, cita que a redução de passageiros não foi uma exclusividade do trem durante estes últimos 10 anos. Os ônibus e outros modais de transporte público também sofreram com isso. Pedro atrela como causas desta diminuição três pontos principais. O primeiro é a criação dos aplicativos de transporte individual, que para muitos se tornaram a única opção de transporte, abrindo mão de ônibus e trens.
O crescimento do uso de bicicletas nas cidades aparece como outra motivação, além da simples redução de viagens, causada por mudanças na mobilidade humana — mesmo antes da pandemia, várias atividades presenciais já vinham sendo substituídas pela tecnologia, como idas ao banco, por exemplo.
— Havia sintomas disso (redução da necessidade de se deslocar). Muita coisa de serviços, entregas, desde comida até roupas, além do crescimento da própria educação à distância (EAD). Eram todas tendências que foram radicalizadas durante a pandemia, quando se tornaram praticamente a única opção. A presença física deixou de ser essencial. Hoje, temos muito mais soluções híbridas — recorda o diretor-presidente da Trensurb.
Expectativa de espaço para retomada
Pedro ressalta que ainda há espaço para retomada do uso do serviço da Trensurb pelos passageiros, mesmo que esse patamar não chegue ao de 10 anos atrás.
Uma expectativa, de acordo com projeções citadas pelo diretor-presidente da empresa estatal, é de que haveria ainda espaço para aumentar em cerca de 20% o número de usuários. Isso elevaria o patamar de passageiros por ano para a casa dos 38 milhões, número ainda menor que os 48 milhões do pré-pandemia (2019).
Mas um dado realista dentro do cenário de redução ou troca de deslocamentos por bicicletas e aplicativos, por exemplo. O que resta é saber como chegar neste caminho. Por isso, a empresa tem focado em encontrar caminhos, e o principal deles é reforçar a integração com outros modais.
Integração é o principal foco
No início deste ano, a Trensurb firmou contrato para elaboração de um estudo para qualificação, estruturação e expansão do sistema integrado intermodal de passageiros, abrangendo serviços de levantamento, diagnóstico, pesquisas e proposições. O responsável é o Consórcio Qualifica Trensurb, formado por Gistran, STE e Matriarcal Engenharia Consultiva. O valor previsto de investimento é de R$ 4,6 milhões.
Para o diretor-presidente, boas respostas e ideias vão sair deste levantamento. O objetivo é que os primeiros resultados venham até o final do ano:
— A gente está apostando em descobrir novos nichos. Esse grande estudo que contratamos é para desenvolver a integração rodometroviária. Mas não é só integração entre ônibus e trem. Queremos olhar para os seis municípios onde o trem passa, investigar as linhas que podem gerar integração conosco e propor incentivos tarifários nesse sentido. E desenvolver outros modais, como espaço para bicicletas, patinetes e outros meios nas estações.
Pedro acredita que a linha da Trensurb tem muito potencial para integrações, mesmo com modais como a bicicleta, por muitas estações estarem em regiões planas. Permitindo, por exemplo, que o usuário deixe a bicicleta na estação e retire ao fim do dia. Além disso, ele pontua a possibilidade de pequenas concessões nos terminais, visando disponibilizar também meios de locomoção para os usuários, como bicicletas compartilhadas.