Lançado em agosto de 2021, o projeto Ação Rua Adultos, da prefeitura de Porto Alegre , já abrigou 1.098 pessoal em situação de rua na Capital. Cada um foi encaminhado para acolhimento de acordo com a história, condição e necessidade.
Promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Social (SMDS), o trabalho desenvolvido em parceria com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) teve como objetivo, nos primeiros meses de trabalho, abordar pessoas em alta vulnerabilidade social, identificar e fornecer atendimento às necessidades destas pessoas por meio de serviços prestados pelo município. Neste trabalho de campo, 12 equipes de abordagem foram responsáveis por cadastrar as 2.518 pessoas em situação de rua que foram identificadas em Porto Alegre.
O secretário de Desenvolvimento Social, Léo Voigt, diz que os acolhimentos começaram oficialmente em janeiro deste ano. Ele avalia o trabalho realizado até aqui como satisfatório.
— Todos os padrões e metas do projeto inicial estão mantidos até o momento. O que estamos monitorando e precisamos rever são os números de hospedagens sociais e auxílio-moradia, que talvez tenhamos que aumentar. As metas de 80% de redução no número de moradores de rua estão mantidas — ressalta Voigt.
O secretário afirma que há moradores em situação de rua que hesitam em aceitar ajuda e acolhimento. O trabalho inclui agora trabalhar com essas pessoas para incentivar e mostrar os benefícios que o Ação Rua Adultos proporciona para que possam recomeçar suas vidas com melhores condições.
Outro desafio identificado pela prefeitura são os casos crônicos e que requerem atendimento especial do setor da saúde mental.
— O que estamos impressionados é que os casos crônicos são muito complexos e requerem mais do que atendimentos em assistência social, em saúde, em emprego. São casos agravados em saúde mental onde sempre o número de vagas é insuficiente. No primeiro ano, estamos constatando que o tema da saúde mental é o grande desafio para avançar em direção a essas metas — destaca o secretário.
Cada indivíduo é alocado em vagas disponibilizadas em abrigos permanentes, albergues ou hospedagem social. Há também os que recebem auxílio-moradia e aqueles que retornam para as cidades de origem.
Acolhimento
Carlos Aberto Sá Brito de Souza, 60 anos, é ex-morador de rua acolhido há cerca de nove meses dentro da iniciativa. O desemprego, somado à separação de um casamento fez com que Carlos Alberto saísse do município de Taquara, onde deixou as duas filhas mais novas com a ex-esposa, para visitar e buscar um recomeço ao lado de sua filha mais velha, em Porto Alegre. Mas os planos não saíram conforme planejado.
Ao chegar na Capital, não encontrou a filha, que estava em viagem. Foi atrás da mãe, quando descobriu que a irmã a levou para outro Estado, perdendo completamente o contato com elas. Desesperado e sem dinheiro no bolso, Souza passou 12 dias dormindo pelas ruas da cidade.
Ao descobrir a situação do pai, a filha que estava viajando entrou em contato com o serviço de abordagem de rua pedindo ajuda para encontrá-lo. No dia 29 de janeiro, Souza foi encontrado e acolhido, passando por duas hospedagens diferentes até ser encaminhado ao Abrigo Marlene, no bairro Menino Deus, onde viu sua vida recomeçar.
—Foram dias horríveis, me senti completamente desorientado. Dormi em fachada de prédios, em praças da cidade, totalmente vulnerável. Eu tinha condições mínimas de higiene e recebia doação de alimentos. Foi constrangedor e desesperador — contou Souza.
Mas os sonhos de retomar a vida não acabaram. Mesmo enfrentando dificuldades, ele relatou que nada o impede de seguir a vida neste momento.
— Me encontro tão bem acolhido que me deu um ânimo pra vida. Meu tempo aqui no abrigo é indefinido e temporário, por isso, tenho novas metas na minha vida hoje. Estou em busca de conquistar minha renda própria e alugar um imóvel para resgatar cada vez mais o contato familiar com minhas filhas.
Uma coisa é certa para Souza:
— Não posso voltar para a rua na mesma situação.
Para a pedagoga do Abrigo Marlene, Fátima Santos dos Santos, a aceitação de cada acolhido referente a sua situação e a necessidade de ajuda é essencial para que busquem a mudança.
— Cada sujeito que ingressa aqui tem uma história de vida que o levou para o caminho da rua e quando compreendemos a história deles, entramos em contato também com a infância deles, a forma de como a família se relacionava, acessando as rupturas. A partir deste acesso, precisamos trabalhar com a reconstrução e ressignificação. O tempo do sujeito é um, o nosso é outro e do acolhimento é outro. Então lutamos contra o tempo para que o desejo deles aconteçam e que possam olhar cada vez mais para si — explica Fátima.
Balanço das estruturas para atendimentos
No lançamento do projeto, a prefeitura da Porto Alegre propôs melhorias de infraestruturas na rede de saúde pública como forma de ampliar as condições de trabalho, mas nem tudo saiu conforme planejado. Veja o que foi feito até o momento:
- Centros Pops – A prefeitura tinha como objetivo a ampliação de três para sete Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua mas, até o momento, nenhuma nova unidade foi criada. O secretário afirma que há um projeto que aguarda liberação de recursos para um novo Centro Pop na zona norte da Capital ainda para 2022.
- Consultórios de Rua – Outro objetivo era aumentar de três para nove os consultórios na rua, que ofertam serviços de saúde. Atualmente, o número aumentou para cinco consultórios e há a previsão de um sexto ainda para este ano, com equipes de saúde multidisciplinares – psicólogo, educadores sociais de saúde, médicos, enfermeiros – que em uma unidade móvel se deslocam para atender a população em vulnerabilidade social de Porto Alegre.
- Vagas para acolhimento - A rede municipal aumentou para 1.822 vagas para acolhimento de adultos.