“Estamos vulneráveis e com muito medo.” É dessa maneira que uma moradora das proximidades do antigo Hospital Álvaro Alvim, localizado no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, sente-se nos últimos dois anos. Desde 2020, quando o espaço foi fechado, teve início uma rotina de furtos, invasões, barulho e muita dor de cabeça para os vizinhos da ex-instituição hospitalar. Segundo relata, na condição de anonimato, invasores entram e furtam todo tipo de material, como torneiras, esquadrias, janelas, fios, além de peças de ferro e alumínio.
O ex-prefeito Raul Pont (PT) é um dos moradores das redondezas. O político conta que até uma audiência pública foi realizada junto ao Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul, há pouco mais de duas semanas, para tratar do problema. Da janela de seu apartamento, costuma enxergar o cotidiano de roubos na instituição e compartilha o que vê:
— Começaram a arrancar esquadrias e portas. Quebram e fazem uma barulheira. Mas não possuem estrutura para levar. Carregam nas costas e, às vezes, escondem nos contêineres da prefeitura para buscar de carrinho mais tarde. Começou esse inferno, que é dia e noite, sábado, domingo e durante as madrugadas — explica, dizendo que os ladrões já arrancaram todas as janelas dos primeiros níveis do imóvel.
Às 11h30min desta segunda-feira (18), havia um funcionário da empresa atualmente responsável pela segurança do local vigiando a entrada principal, situada na Rua Professor Álvaro Alvim, 400. Porém, nem mesmo a presença de seguranças inibe a ação dos invasores, que deixam um rastro de destruição por onde passam.
Os ladrões contornam o quarteirão e acessam as instalações pelo portão onde ficava o antigo ambulatório do Hospital Luterano da Ulbra, na Travessa Desembargador Viêira Píres, na esquina com a Rua Doutor Lauro de Oliveira, onde o movimento de pessoas é praticamente nulo. Ao passar pelo portão, que não possui sequer um cadeado, vestígios recentes da presença dos invasores são visíveis e estão espalhados pelo chão, como vidros quebrados, roupas velhas, resto de material furtado e até um quadro de decoração.
Conforme relatos, agora os invasores roubam janelas porque já levaram todos os fios de cobre e outras peças de valor. Ficam escondidos dentro do prédio, onde é possível escutar as batidas e o barulho de material sendo arrancado a marretadas das paredes.
No segundo andar, em que há uma placa indicando onde ficava a unidade de internação, o cenário é de destruição. Parece que uma bomba estilhaçou vidros, derrubou partes do teto e arrancou reboco das paredes. Em diversos corredores e cantos, estão espalhados pelo piso bonés, chinelos, camisetas, latas de cerveja e restos de cigarros, evidenciando a passagem recente de pessoas por ali. Além do consumo de drogas, o local serve até para prática sexual, segundo testemunhou, recentemente, o próprio segurança.
— Nossa preocupação, além do barulho e do risco, é que foram arremessadas pedras nas janelas dos vizinhos e quebraram vidros. Começam a ameaçar dizendo que nós não temos nada a ver com isso. Esse é o clima já há algum tempo — conclui Pont.
A Guarda Municipal atendeu 15 ocorrências envolvendo dano, depredação, invasão, furtos e roubos de cabos e fios no local em 2021. Em outubro, duas pessoas foram presas. Em outra ocorrência, um foragido foi capturado. Em 2022, os guardas receberam uma denúncia de dano no antigo Hospital Álvaro Alvim, porém, sem procedência.
Por sua vez, a Brigada Militar informou que, em março, houve 21 ocorrências no entorno do antigo hospital, com sete prisões (uma pessoa permanecia presa), e outras 13 ocorrências em abril, com mais cinco pessoas recolhidas (uma seguia detida).
Entenda o caso
Em 2011, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) ficou responsável pela administração do antigo Hospital Luterano da Ulbra, chamado então de unidade Álvaro Alvim, pertencente ao governo federal. Com o aparecimento da covid-19, o espaço foi oferecido à prefeitura da Capital. Mas, devido ao estado da estrutura, a proposta acabou sendo rejeitada. Dessa maneira, em 2 de agosto de 2021, o HCPA devolveu as chaves do local para o governo federal.
O Ministério da Economia promoveu um leilão do imóvel, em 8 de março, mas não houve interessados. Na oportunidade, o valor mínimo era de R$ 23 milhões. Agora, a pasta relançou o leilão para 27 de abril, quando tentará vender o prédio do antigo hospital. O valor mínimo baixou para R$ 17,25 milhões. O prédio possui 9.616 metros quadrados de terreno e 10.483,23 metros quadrados de área construída.