O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) anunciou nesta terça-feira (11) que a estiagem e as altas temperaturas já estão afetando o abastecimento de água em algumas regiões de Porto Alegre. Os bairros mais afetados, segundo o Dmae, são Restinga e Lomba do Pinheiro, mas não há estimativa de quantas residências foram afetadas. De acordo com o departamento, o forte calor estimula o consumo de água, e a região abastecida pelo Sistema Belém Novo, área com déficit histórico de abastecimento na Capital, pode apresentar ainda mais problemas, como é o caso desses dois bairros.
Em horários de pico de consumo, no cenário atual, não há capacidade suficiente para manter os reservatórios cheios e atender à demanda das zonas Sul, Extremo-Sul, Lomba do Pinheiro e Restinga. Entre as medidas que estão sendo adotadas pelo Dmae estão manobras de parada de estações de bombeamento para encher os reservatórios e retomar a distribuição, além da utilização de caminhões-pipa para atender as comunidades desabastecidas.
Nesta terça-feira, segundo a assessoria de comunicação do departamento, não foram feitas solicitações de caminhões-pipa por parte de subprefeituras, que devem atender a essa demanda.
“Sempre deu esse problema”
Luiz Elias Oliveira, 65 anos, mora na Lomba do Pinheiro desde 1987. Segundo ele, a falta de água na região durante o verão é um problema crônico.
— Já estamos há três dias sem água. Quem tem algum restinho de água, tá bem. Sempre deu esse problema. De uns tempos para cá, piorou — comenta Oliveira, que tem uma caixa com poucos litros de água abastecendo três residências.
Oliveira mostra em sua casa uma sacola lotada de roupas sujas, pertencentes à sua família. As vestimentas estão acumuladas há mais de uma semana e são aos poucos lavadas em alguns litros de água represada em uma máquina de lavar estragada, improvisada como pia.
— Vou fazer o que com essas roupas? É apodrecer para jogar fora — lamenta Luiz, após abrir uma de suas torneiras e não sair nenhuma gota de água.
Alguns moradores conseguiram colocar caixas d’água em suas casas, como foi o caso de Oliveira. A questão é que sua caixa, de 500 litros, não fica cheia há dias.
— Temos dois idosos ali adiante que não colocaram (caixa d’água). Hoje, eles estavam sem uma gota de água em casa. Eles têm de ir até uma bica lá adiante para trazer água de volta — comenta Mariana Mendes, 29, que mora a poucos metros de Oliveira.
Segundo o Dmae, os problemas crônicos do Sistema Belém Novo devem ser solucionados com a finalização da construção do Sistema de Abastecimento de Água Ponta do Arado, que já está em andamento e que deve ficar pronto em dois anos.
— A gente vai se virando da maneira que dá. Não dá para lavar roupa, não dá para limpar a casa, a louça fica do jeito que está. Pode vir a água de noite, o que às vezes acontece, todo verão é assim com a gente. Mas nessa temporada são duas semanas desse jeito, ficamos uma semana sem água direto e agora, de novo, desde domingo (9) — acrescenta Mariana.
“Veio um pouco de água, mas veio suja”
Outro problema decorrente da baixa no nível do Guaíba, segundo o Dmae, é a água turva que sai das torneiras de moradores. Níveis mais baixos em reservatórios acabam provocando essa situação, por conta da captação estar se dando em áreas mais próximas da margem, como é o caso do Sistema Belém Novo.
A residência de Mariana está desde o domingo sem abastecimento de água, a não ser por um breve momento na manhã desta terça-feira.
— Hoje, ali pelas 4h da manhã, veio um pouco de água, mas veio suja — diz Mariana.
O Dmae afirma que a turbidez não retira a qualidade da água distribuída. Além disso, a própria diminuição da vazão de água no sistema é uma medida adotada para garantir a potabilidade do volume distribuído.
O departamento afirma que a água normalmente captada no Guaíba tem de 30 a 50 unidades de turbidez, conhecidas como NTU. Atualmente, o valor está chegando a mil NTUs, que é a medida máxima captada por medidores.