A Polícia Civil abriu uma investigação para apurar uma suposta troca de vacinas contra a covid-19 por soro fisiológico em Porto Alegre. A denúncia veio à tona depois que cinco profissionais da Unidade de Saúde Guarujá foram demitidos por justa causa por terem privilegiado familiares na fila da vacina. Depois disso, os servidores teriam trocado mensagens sobre a dificuldade em reverter as demissões e sobre a substituição do imunizante pela outra substância.
GZH teve acesso ao conteúdo das conversas, nas quais há frases como "não temos argumentos para o frasco de segunda-feira, este frasco não deveria existir" e "até onde eu soube, a ideia de por soro foi tua. Se foi colocado ou não, não tenho como provar." Um dos funcionários chega a falar o nome de quem supostamente teve a ideia de aplicar soro fisiológico.
Denúncias envolvendo as demissões e a suposta fraude nas vacinas chegaram até o vereador de Porto Alegre Jonas Reis (PT). Ele diz que procurou a prefeitura por três ocasiões (em 6 e 12 de julho e 17 de agosto) em busca de informações, mas não foi atendido. Reis também afirma que as informações foram encaminhadas à Polícia Civil e ao Ministério Público Federal.
— A população merece respostas. Meu desejo é que elas sejam testadas, saibam se receberam vacinas ou soro. Além disso, eu me pergunto: será que os demitidos realmente eram os culpados? Será que não teria mais envolvidos? Quem pode ter se beneficiado disso? São questões que caberá à polícia responder — diz o vereador.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirmou que "a apuração dos fatos junto aos envolvidos apontou que não houve substituição do imunizante por soro fisiológico ou água. Com isso, não há suspeitas de que pessoas tenham sido vacinadas com outra substância".
Segundo o subchefe de polícia, delegado Fabio Motta Lopes, os servidores serão ouvidos nos próximos dias, e documentos serão analisados para entender o que de fato aconteceu.
— Queremos esclarecer os fatos, saber se houve apenas a questão do esquema fura-fila ou se efetivamente ocorreu aquilo que aparece nas supostas mensagens — afirma.
O delegado Marco Antonio Duarte De Souza, responsável pela investigação, afirma que recebeu formalmente as informações nesta sexta-feira, mas que as supostas mensagens ainda não foram entregues a ele.
— O que posso confirmar é que iremos apurar se efetivamente os fatos noticiados ocorreram — afirmou.
GZH entrou em contato com a Associação Hospitalar Vila Nova (AHVN), gestora do RH da Unidade de Saúde Guarujá, e a instituição informou que a substituição é um fato "descartável" e que foi realizada uma apuração junto com a SMS sobre o caso.
— Não existiu essa troca, as pessoas foram vacinadas de fato com as vacinas contra a covid-19, não ocorreu a aplicação de soros — garantiu Ridan Colognese, coordenador jurídico da AHVN.
Colognese também frisou que a Associação instaurou um processo disciplinar onde os envolvidos confessaram, anteriormente, o favorecimento de amigos e familiares na fila da vacinação. Em nenhum momento, segundo ele, cogitou-se a troca da substância.
— Talvez alguém tenha voltado nessa questão para desvirtuar a situação, o que é pior para eles, tentando afastar a responsabilidade de terem furado a fila. (...) A nossa autonomia na parte como jurisdição dos servidores foi realizada — disse Colognese, lembrando que os funcionários já foram desligados.
Com a abertura do investigação, a AHVN se comprometeu a contribuir com a Polícia Civil no que for necessário dentro do caso.
Leia a íntegra da nota enviada pela Secretaria Municipal de Saúde:
"No dia 30 de junho, a Secretaria Municipal de Saúde foi informada que 5 profissionais da Unidade de Saúde Guarujá, sendo uma enfermeira, três técnicas de enfermagem e uma auxiliar administrativa teriam privilegiado familiares fora do grupo prioritário e/ou faixa etária de vacinação contra a Covid-19.
Diante disso, a SMS abriu uma sindicância para a apuração dos fatos, e orientou a Associação Hospitalar Vila Nova (AHVN), gestora do RH da unidade, a tomar as medidas cabíveis. Foi feito um boletim de ocorrência na Polícia Civil, denúncia no Coren-RS e no Ministério Público.
Os cinco profissionais envolvidos foram afastados imediatamente dos cargos, sendo demitidos por justa causa por ato ilícito contra a administração pública por formação de esquema fura-fila da vacina.
Desde o ocorrido, foi intensificado o monitoramento das doses entregues x doses aplicadas de cada unidade de saúde. Também foi orientado as coordenações a evitarem a abertura de novos frascos ao final do dia, a fim de diminuir as sobras em cada unidade.
A apuração dos fatos junto aos envolvidos apontou que não houve substituição do imunizante por soro fisiológico ou água. Com isso, não há suspeitas de que pessoas tenham sido vacinadas com outra substância.
A SMS desconhecia tal prática e repudia qualquer conduta semelhante, seguindo veementemente o Plano Nacional de Imunização estabelecido pelo Ministério da Saúde."