Na tentativa de atrair consumidores ao centro de Porto Alegre e valorizar a região como ponto de turismo e lazer, o Mercado Público viveu, neste final de semana, uma experiência diferente: após anos com as portas fechadas aos domingos, cinco restaurantes e uma cafeteria abriram ao público para o almoço do Dia das Mães (9). A iniciativa foi aprovada pelos frequentadores.
Ainda que o movimento tenha sido tímido nesse primeiro teste e cercado de cuidados, a expectativa, a partir de agora, é de que a medida se torne permanente e inclua mais estabelecimentos.
Proprietário do Gambrinus, inaugurado em 1889, João Alberto Cruz de Melo estava esperançoso. Aos poucos, os clientes foram chegando e se acomodando nas mesas. Muitos pedidos também vieram por aplicativo.
— Vivemos momentos difíceis desde que a pandemia começou. É bom poder reabrir aos domingos. Estamos tomando todas as precauções e torcendo muito para que dê certo — disse Melo.
Surpreso ao encontrar o local em funcionamento, o advogado Fernando Massignan, 37 anos, não titubeou: decidiu almoçar ali mesmo com o amigo de infância, Mahatma Marostica, 37 anos. O engenheiro mecânico vive em Florianópolis e veio a Porto Alegre de passagem.
— É até estranho uma Capital não ter o seu mercado aberto aos domingos. Em Florianópolis, esse é um dos dias de maior movimento — contou o visitante.
A dupla saboreou um bacalhau à moda Gomes de Sá, uma das especialidades do Gambrinus.
— Estava ótimo. Esperamos que essa novidade se mantenha, porque é uma excelente opção, inclusive para as pessoas que vêm de fora — opinou Massignan.
A 20 passos de distância, o Naval, fundado em 1907, também exalava o saboroso aroma da boa comida. No caixa, um dos sócios do empreendimento, Jader Gomes, sorria por trás da máscara — não só pela presença física dos frequentadores, mas também pelos pedidos de telentrega, que chegavam sem parar.
— Estávamos na expectativa pela reabertura e está sendo bom — confirmou.
Em uma das mesas, a dentista Anike Sartori, 40 anos, curtia uma refeição especial com a mãe, Elvira Sartori, 64 anos. Para celebrar o dia, as duas escolheram uma mesa em local arejado e pediram um Bacalhau a Naval, iguaria da casa, acompanhado de dois chopes.
— Eu sigo o perfil do restaurante no Instagram e fiquei sabendo por ali da abertura. Liguei para saber das medidas de segurança e decidi convidar a mãe. Viemos de São Leopoldo — relatou Anike.
No restaurante e choperia Essencial, o proprietário Rodrigo Tomasel, 42 anos, também observava o movimento satisfeito.
— Chega de pagar para trabalhar. Abrimos neste domingo pelo prestígio da data. Com a prefeitura dando suporte de limpeza e segurança, tem chance de se repetir a iniciativa. Aqui, antes da pandemia, éramos 10 pessoas (contando os funcionários). Depois, chegamos a ter apenas quatro. Agora, estamos em cinco. Se realmente continuarmos abrindo aos domingos, a expectativa é de gerar ao menos mais dois empregos — destacou Tomasel, enquanto dois pratos recheados de bacalhau eram servidos para um casal de clientes.
Vindos de Gravataí, o operador de empilhadeira Rafael Saldanha, 47 anos, e a mulher dele, a separadora Marta Esteves, 57 anos, aprovaram o atendimento.
— Está muito bom. Ficamos sabendo da reabertura pela TV. Se continuar assim, a gente volta — contou Saldanha.
A ideia é essa, segundo o gerente do Mercado Público, Ronaldo Pinto Gomes, que acompanhou a nova fase de perto.
— Desde que assumi como administrador, no início do ano, o prefeito Sebastião Melo sempre dizia: “temos que abrir no domingo”. Os permissionários estão felizes. Imaginamos que é um caminho sem volta. Queremos abrir também a parte interna em um ou dois meses — ressaltou Gomes.
Além do Gambrinus, do Naval e do Essencial, a iniciativa contou com a participação da Taberna 32, do restaurante e lancheria Santa Cruz e do Café do Mercado.
— É uma maravilha. É bom para nós, para o cliente e para os estabelecimentos — resumiu José Lopes Tavares, 74 anos, um dos mais antigos garçons locais, funcionário do Gambrinus há quatro décadas.