Atravessando a Avenida Osvaldo Aranha com uma amiga, a estudante de Direito Letícia Valer, 24 anos, notou algo estranho no canteiro central da via, próximo à parada de ônibus. Pés de milho enfileirados, como se fossem plantas ornamentais, chamaram atenção da moradora do bairro Bom Fim, em Porto Alegre, que parou para fotografar a cena inusitada e postar nas redes sociais no último domingo (17).
— Tive que parar e tirar foto. Era milho no meio da Osvaldo! Minha família é do Interior, cresci no meio de plantação, então reconheci na hora — afirma Letícia, revelando a suspeita de um amigo no Instagram: — Ele respondeu, brincando, que provavelmente era o trabalho de conclusão de algum aluno da Arquitetura — conta ela, aos risos.
A "plantação" começa próximo à Rua Fernandes Vieira e vai até a Rua Santo Antônio. São, aproximadamente, 300 metros de avenida "ornamentados" por dezenas de pés de milho de diversos tamanhos. A planta mais alta fica no cruzamento com a Rua João Telles e, por ser mais desenvolvida, já tem até espigas – com poucos e definhados grãos. Segundo o engenheiro agrônomo Leonardo Valentini Görgen, são espigas mal fecundadas.
— Naturalmente, dentro de uma cidade não se tem todos os elementos que a planta precisa para crescer, se fortificar, criar uma espiga saudável e produzir muitos grãos — explica.
Segundo o especialista, para chegarem ao tamanho atual, os pés de milho devem ter sido "plantados" há pelo menos 75 dias. A probabilidade, de acordo com Görgen, é de que as sementes tenham sido enterradas propositalmente no canteiro central. Também é possível que alguém tenha atirado punhados de milho ou espigas, fazendo brotar várias plantas.
— Para que as sementes tenham capacidade de gerar uma planta, é preciso que estejam secas e inteiras. Isso se encontra em uma espiga ou em ração para animais como porco e galinha. Aí está o inusitado dessa situação, pois não se encontra esse tipo de semente em uma lata de milho verde, por exemplo — explica Görgen.
Além das dezenas de pés de milho, de acordo com o especialista, as imagens também revelam um pé de cana-de-açúcar crescendo na avenida.
Procurada por GZH, a Secretaria do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) destaca que a população não deve realizar plantios em áreas públicas – uma competência exclusiva da pasta (como define a Lei Orgânica de Porto Alegre), que analisa uma série de critérios técnicos ao realizar qualquer procedimento.
Além disso, a Smamus reitera que está em processo de desenvolvimento um projeto para regulamentar as hortas comunitárias, que são espaços viáveis e devidamente planejados para que se tenham espécies como a da imagem em interação com o meio urbano.