Rachaduras em paredes, teto e até no chão não são novidade para moradores do Loteamento Irmãos Maristas, no bairro Rubem Berta, em Porto Alegre. Famílias relataram a GZH que problemas têm sido percebidos desde o começo do ano e não estariam tendo o devido atendimento por parte da construtora.
Entre a noite de sexta-feira e a madrugada deste sábado (10), cerca de 60 pessoas tiveram de ser retiradas dos apartamentos depois de o Corpo de Bombeiros constatar rachaduras nas estruturas. Moradores relatam terem ocorrido tremores no local.
A reportagem constatou que há problemas mesmo em imóveis que não estão entre os que foram evacuados. No apartamento da auxiliar de serviços gerais Taise Pereira Bueno, que se mudou para o local em 11 de fevereiro, o forro do banheiro desabou há duas semanas:
– Vi as rachaduras no gesso, fiz fotos e mandei para o pessoal da Direcional (construtora do empreendimento). Pedi se podiam dar uma prioridade de horário para o conserto, pois eles só começam a trabalhar às 9h e eu saio cedo de casa. Mas no mesmo dia, quando meu marido foi ligar o chuveiro, desabou tudo, parecia que o prédio estava caindo. Eu tenho duas crianças, podiam ter se machucado.
Desde então, Taise tem tentado, segundo ela, negociar o conserto.
– Eles enrolam, vão lá, mas falta material. E disseram que não sabem a quem devo recorrer para tratar do meu prejuízo: quebrou meu chuveiro, cuba, tampa do vaso – diz Taise.
A doméstica Dienifer Nunes Lacerda conta que desde a mudança viu problemas na estrutura:
– A gente pisava no chão e parecia oco. Em seguida, o piso começou a levantar. Falamos com a construtora e disseram que era só problema estético. Daí tirei o piso para as crianças não caírem. E tinha rachaduras sob o piso. Até hoje está assim.
Na manhã deste sábado (10), uma das preocupações das autoridades foi justamente verificar se há rachaduras sob o piso dos apartamentos evacuados. A Defesa Civil e a Guarda Municipal, além de representantes da Caixa Econômica Federal (CEF), acompanharam o trabalho de equipes da Construtora Direcional durante a verificação.
Marines Rodrigues de Oliveira, que se mudou em janeiro, registrou rachaduras ao redor de portas, que fecham com dificuldade.
– Tudo que acontece a gente comunica, faz foto e manda. Temos a garantia de cinco anos da obra, né. Mas não temos tido retorno – desabafa Dienifer, que é prima de Marines.
Com a evacuação do prédio vizinho por causa de rachaduras e tremores, agora, Taise, Dienifer e Marines aguardam que seus imóveis também sejam vistoriados para avaliação de riscos.
Os prédios, que têm cinco andares e 20 apartamentos, foram construídos pelo programa Minha Casa Minha Vida, em condomínio que custou R$ 128 milhões. A estrutura foi destinada a famílias que foram transferidas da Vila Nazaré devido a obras de ampliação do Aeroporto Salgado Filho.
A promotora Débora Menegat, da promotoria de Habitação e Ordem Urbanística de Porto Alegre, está acompanhando desde a madrugada a situação das famílias. Ela fez contato com o Ministério Público Federal (MPF), que acompanhou junto com o Ministério Público do RS a transferência das famílias da Vila Nazaré para o loteamento. Segundo Débora, o MPF está oficiando a Caixa para que sejam adotadas providências, inclusive com averiguação dos fatos que estão sendo relatados pelos moradores e sobre o laudo que a construtora está providenciando sobre as condições do imóvel.
No final da manhã, moradores fizeram um panelaço no local. GZH tenta contato com a construtora.
O que disse a Caixa Econômica Federal:
"O Residencial Irmãos Maristas, contratado no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida, foi construído pela Construtora Direcional, responsável pela obra. A Caixa esclarece que, imediatamente após ser notificada pela Defesa Civil sobre a remoção das famílias de um dos quatro blocos do residencial, encaminhou profissionais da equipe técnica, que estão no local, para avaliar a situação. A construtora Direcional foi tempestivamente notificada para que tome as providências necessárias. Até o momento identificou-se um problema de desplacamento de piso, localizado em uma das unidades. A Caixa continua acompanhando a situação no empreendimento, avaliando demais unidades para parecer conclusivo até o fim do dia. A Caixa informa ainda que está acompanhando a situação das famílias e a Construtora está em contato com as mesmas, para providências que se fizerem necessárias".