A sensação de calmaria que se instaurou na cidade desde a adoção das medidas de distanciamento social passa longe da realidade de proprietários de bares e restaurantes de pelo menos três vias do bairro Rio Branco, perto da divisa com o Bom Fim. De março até agora, pelo menos cinco estabelecimentos nas ruas Miguel Tostes, Castro Alves e Casemiro de Abreu foram arrombados e furtados, alguns deles mais de uma vez. Há quem contabilize prejuízos de mais de R$ 15 mil.
A maior parte dos alvos fica na Rua Miguel Tostes, onde vários casarões antigos abrigam bares e restaurantes que paralisaram as atividades no começo da pandemia. O mais recente deles, em setembro, foi um furto a O Barzito, entre a Rua Cabral e a Avenida Protásio Alves. Na ocasião, foram levados eletrodomésticos, bebidas e dezenas de objetos de família dos sócios, que divulgaram os itens nas redes sociais e pediram ajuda da clientela para tentar recuperá-los.
Antes disso, no entanto, eventos semelhantes já tiravam o sono de outros empreendedores da vizinhança. Às vezes de forma literal. Sócio do Groova, na mesma via, Alessandro Nunes tentou dormir no bar depois do primeiro arrombamento, no começo de agosto. A ideia era evitar um novo evento, mas a angústia de passar a noite sozinho no local o impedia de relaxar. Desistiu depois de alguns dias, e a casa voltou a ser invadida.
– Cortaram a fiação do poste e arrebentaram o medidor para cortar a luz e o alarme. Levaram toda a fiação da casa. Meu prejuízo vai ser de, no mínimo, R$ 15 mil – calcula.
O estabelecimento foi o terceiro invadido na mesma quadra em menos de quatro meses. Vizinho ao Groova, o restaurante Almond também passou por dois arrombamentos durante o distanciamento social, um em abril e outro em maio. Da primeira vez, uma “visita” ao depósito subtraiu cabos, fios e outros materiais elétricos. Na segunda, as câmeras de segurança gravaram o invasor caindo do telhado, por onde acessou a casa, até o térreo. Assustado com o alarme, ele conseguiu fugir antes que a Brigada Militar chegasse ao local.
Para evitar novos eventos, o proprietário Rafael Magedanz reforçou a segurança no telhado, colocando um arame cortante. Desde então, não houve novas ocorrências.
Rafael acha que os furtos estão mais frequentes na região desde o começo da pandemia. Além dos episódios em seu restaurante e no dos vizinhos, acredita ter presenciado a invasão de outro estabelecimento, uma hamburgueria à esquina das ruas Miguel Tostes e Casemiro de Abreu. Segundo ele, relatos da vizinhança em um grupo de WhatsApp também indicam que os eventos aumentaram.
– Em 25 anos que estamos aqui, tínhamos passado por dois arrombamentos. Agora, em menos de um ano, teve a mesma quantidade. A gente acha que a pandemia desencadeou mais, porque a vizinhança está recolhida – observa.
Mesma avaliação tem Lídia Fraguas, uma das sócias do Estômago Café Vegano. O estabelecimento, que funcionava à esquina das ruas Miguel Tostes e Castro Alves (deixaram o local por questões financeiras durante a pandemia), foi dos primeiros a ter a fiação furtada, no fim de março.
– A gente, inocente, mandou consertar no dia seguinte, porque precisava trabalhar. Em seguida fomos furtadas de novo – conta Lídia, que calcula ter investido em torno de R$ 9 mil no conserto.
Além dos estabelecimentos da Miguel Tostes, o Lola Bar de Tapas, na Castro Alves, também foi alvo de uma invasão durante a madrugada, entre abril e maio. As proprietárias acreditam que o alarme inibiu uma ação mais contundente do criminoso, que fugiu levando apenas algumas bebidas. Não foi a única dor de cabeça das duas sócias com eventos dessa natureza. Ex-proprietárias do Vaca, na Rua Bento Figueiredo, no bairro vizinho, passaram por quatro arrombamentos durante a pandemia, antes de vender o negócio.
Segundo o comandante do 9º BPM, Fernando Gralha Nunes, a Brigada Militar acompanha os casos de furtos na região e incrementou o patrulhamento durante a madrugada nos últimos meses. Ele observa que vários dos infratores são “conhecidos” da polícia. Alguns deles já teriam sido presos diversas vezes, mas, em razão da natureza não violenta do delito, são soltos rapidamente.
Apesar de admitir que os arrombamentos tem sido recorrentes, discorda que estejam mais frequentes que em outros momentos na região.
– Esse é um delito silencioso. Dificilmente a gente consegue prender em flagrante. Chama mais atenção agora, por causa do isolamento, mas estamos adotando com a comunidade medidas para coibir. Não é uma epidemia de furtos. Está sob controle – diz.
Segundo o comandante, os registros de furtos caíram 37% na área do batalhão, que abrange 15 bairros, em comparação com ano passado. Para que possa planejar o policiamento na área, ele destaca a importância de registrar boletim de ocorrência mesmo que não haja perdas materiais.