A orla da Vila Assunção será "re-revitalizada". A área de lazer na zona sul de Porto Alegre às margens do Guaíba, célebre no imaginário da região por ter abrigado o badalado Bar do Timbuka até o final da década passada, passa por obras de revitalização pela segunda vez em um espaço de nove anos. Com orçamento quase 12 vezes superior, a prefeitura tentará um resultado melhor à criticada obra inaugurada em julho de 2011.
Em 2008, a demolição do Timbuka com aval da Justiça por construção irregular era, segundo a administração municipal à época, o último empecilho para colocar em marcha um projeto de revitalização para a região planejado desde 1993. Ele previa concha acústica, trapiche com quiosque e espaço para lazer. Três anos depois, o resultado foi questionável: o bar deu lugar a um mirante retangular de concreto, duas arquibancadas, três bancos de praça, cinco luminárias e um passeio de lajes de grés.
Segundo o secretário municipal de Obras e Viação à época, vereador Cássio Romildo (PTB), o projeto de revitalização se perdeu em meio às tantas ações na Justiça para desapropriar as construções irregulares na Zona Sul. Quando a orla foi enfim liberada, a prefeitura não tinha recursos para retomá-lo. Para que o espaço não permanecesse abandonado como estava há quase três anos, as secretarias municipais foram desafiadas a ver o que poderia ser feito com recursos e equipes próprias. Hoje, em vez de revitalização, o vereador usa termos mais modestos para definir a obra.
— Foi mais uma garibada. Demos uma ajeitada ali sem fazer nenhuma contratação, para que o espaço não ficasse entregue à marginalidade. Para algo que foi feito sem gastar um centavo fora da prefeitura, ficou ajeitadinho. Faz um três meses que passei por ali para tomar um chimarrão. Agora já está um pouco danificado, mas estava com bastante gente, o que era mais importante. Ocupar o espaço público — declara o ex-secretário.
A "garibada" custou R$ 35 mil, e, embora modesta, cumpriu o objetivo de manter o local frequentável. Conforme os moradores da região, o mirante com a vista para o Guaíba recebia um considerável número de visitantes com cadeiras de praia e chimarrão aos finais de tarde até o início das novas obras, em janeiro passado. Agora, a reclamação é de falta de transparência. Os moradores apontam a ausência de uma placa informando o que será feito no espaço e quando será reaberto.
Desta vez, o investimento de R$ 415 mil será por meio de termo de conversão de área pública, quando uma empresa banca obras públicas como compensação pelo impacto de outro empreendimento. Se trata do mesmo mecanismo utilizado atualmente nas obras do Parque da Redenção. Na Zona Sul, estão previstas reforma das arquibancadas de concreto, três novas escadarias, duas rampas de acessibilidade, passeio alargado com piso podotátil (para deficientes visuais), 30 novos bancos, oito lixeiras e aparelhos de ginástica e alongamento. A Praça Araguaia — à frente, do outro lado da Avenida Guaíba — também receberá melhorias.
— A decisão de investir naquela região foi por duas razões. Precisávamos consertar equipamentos danificados pela enchente de 2015 (em outubro, a segunda maior cheia já registrada no Guaíba) e privilegiamos uma região que já é muito utilizada para caminhadas. Por isso, alargamos o passeio e previmos os equipamentos de ginástica — diz o arquiteto Alex Souza, coordenador de áreas verdes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade (Smams), responsável pela obra.
A previsão de entrega da revitalização, dessa vez para valer, é no próximo mês de abril.
Do Timbuka às revitalizações
- Na década de 1990, para dar início a um projeto de revitalização da orla na Zona Sul, a prefeitura entrou na Justiça contra uma série de empreendimentos irregularmente posicionados sobre o Guaíba. A briga na Justiça se estendeu por anos
- Em 2007 e 2008, respectivamente, a prefeitura conseguiu na Justiça ordem contra os últimos deles, o Bar do Orlando, em Ipanema, e o Bar do Timbuka, na Vila Assunção. A gestão, à época, era a do prefeito José Fogaça
- Demolido o Timbuka, a prefeitura não conseguiu recursos para desengavetar o projeto de revitalização, que previa trapiche, quiosque, concha acústica e área de convivência. O espaço passou três anos parcialmente em ruínas
- Em 2011, já sob a gestão de José Fortunati, as secretarias de Obras e Viação, Meio Ambiente e o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) juntaram esforços para fazer uma revitalização com recursos próprios. Além da limpeza do local, foi construído mirante, arquibancadas, três bancos de praça, cinco luminárias e um passeio de lajes de grés
- Embora modesta e criticada pelos moradores da região a obra serviu para manter o espaço com bom fluxo de frequentadores, sobretudo para caminhadas aos finais de tarde. Com o tempo, o espaço foi avariado por vandalismo e por causas naturais, com a enchente que comprometeu as arquibancadas de frente para o Guaíba, em 2015
- Em janeiro 2020, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e da Sustentabilidade deu início a uma nova revitalização do espaço, com novas arquibancadas de concreto, três escadarias, duas rampas, passeio alargado, 30 novos bancos, oito lixeiras e aparelhos de ginástica
- O investimento de R$ 415 mil veio por meio de termo de conversão de área pública firmado com a empresa R. Correa Engenharia, como compensação por outro empreendimento na Zona Sul. As obras estão sendo executadas pela RSVB Empreendimentos, contratada pela R. Correa, e tem previsão de entrega em abril