Ainda distantes dos porto-alegrenses, o uso de dados integrados para melhorar o serviço de saúde, água da torneira sem gosto nem odor independentemente da época do ano, o financiamento coletivo de empresas inovadoras e outros projetos que, em outros tempos, poderiam levar décadas para saírem do papel, estão mais perto de fazerem parte da realidade de quem vive na Capital. Junto com outras 21 propostas, as iniciativas integram o Pacto Alegre, que teve o balanço do primeiro semestre de trabalho apresentado nesta terça-feira (3) . Em evento no Nau Live Spaces, no Quarto Distrito, cada grupo teve 10 minutos para mostrar resultados e projetar as ações do próximo ano.
— Esse é um momento de balanço e de prestação de contas do que foi feito até agora. Era uma missão complexa, mas quase todos os projetos tiveram avanços significativos — diz o engenheiro Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, coordenador do Pacto Alegre.
A parceria entre poder público, universidades, empresariado e entidades da sociedade civil que procura estimular a inovação e a cidadania na Capital definiu os primeiros 24 projetos no fim de maio.
Eles contemplam sete eixos: imagem da cidade, modernização da administração pública, educação e talentos, ambiente de negócios, transformação urbana, qualidade de vida e propostas estratégicas.
Saúde
Considerada uma das mais ambiciosas inciativas do Pacto Alegre, o Saúde Digital conseguiu estabelecer bases concretas para o futuro. A iniciativa, que tem como objetivo criar um banco de dados de saúde unificado, incluiu em um sistema integrado todos os hospitais e postos de saúde públicos da Capital e, a partir do ano que vem, deve contar com a colaboração de duas entidades privadas: os hospitais Ernesto Dornelles e São Lucas.
Também em 2020, deve ser elaborado um app que permitirá aos cidadãos acompanharem o próprio histórico de consultas e os procedimentos realizados nas instituições integradas. Para estimular as entidades privadas a se engajarem, está prevista a criação de um selo que certifique a colaboração da instituição com o Saúde Digital.
Segundo Priscila Lora, professora da Unisinos que participa do grupo multidisciplinar — há representantes de universidades, da prefeitura e do mercado, das áreas da saúde, do Direito e da informática —, a ideia é de que o repositório digital ajude a melhorar o atendimento na rede e sirva como base para futuras pesquisas e elaboração de políticas públicas.
— Queremos qualificar o sistema e o atendimento. Com acesso aos dados, poderemos desenhar pesquisas epidemiológicas como nunca se viu, porque isso nos permitirá acompanhar as pessoas por muitos anos — relata.
Água
Outra ação que poderá, no futuro, resultar em política pública, é a Wond3r. Liderada pelo Dmae, ela tem como objetivo aumentar a confiança dos porto-alegrenses na água da torneira — tratada pelo órgão. A partir do ano que vem, com a ajuda de quatro professores da UFRGS, um projeto piloto irá testar um modelo tratamento avançado junto à estação Moinhos de Vento.
O método, com ozonização e bioestabilização, permite retirar características de odor e sabor, pesadelo porto-alegrense no verão, e eliminar substâncias como fármacos e pesticidas — que vão além das exigências do Ministério da Saúde. A utilização do sistema também pode implicar em uma redução de cerca de 30% no uso de cloro na água.
— Atendemos aos padrões exigidos, mas percebemos que existe uma demanda por parte da população que, de certa forma, não confia na água do Dmae. Consideramos importante trazer essa discussão para a sociedade — diz o engenheiro Rafael Newton Zaneti, que prevê um investimento de R$ 7 milhões no piloto.
A água tratada com o novo sistema não deve ser distribuída à comunidade. Ela será analisada durante 18 meses, e os resultados servirão para embasar projetos para as demais estações, assim como avaliar a viabilidade financeira da mudança — a estimativa é de que a implantação do sistema acarretaria um aumento de 3,5% na tarifa.
Em paralelo, o departamento deve lançar, nos próximos meses, uma ferramenta gratuita que permitirá aos porto-alegrenses acessarem os dados de monitoramento da água em 350 pontos da Capital. Serão disponibilizadas informações como o PH, nível de turbidez e concentração de coliformes identificados durante as coletas.
Financiamento
Se boa parte das propostas têm participação direta de funcionários da prefeitura, também há iniciativas vinculadas a outros âmbitos do poder público. É o caso do Crowdfunding POA. Liderado pelo Badesul, agência de fomento vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Estado, ele irá propor um novo modelo de financiamento para startups a partir do próximo ano.
Após uma análise prévia, o Badesul escolherá startups para auxiliar através do chamado equity crowdfunding, vaquinha virtual em que os investidores, em vez de receberem produtos ou serviços, ganham participação na empresa. As escolhidas receberão do banco entre 30% e 50% do aporte financeiro solicitado (o percentual é limitado a R$ 750 mil) e terão de conseguir o restante de outros apoiadores, que poderão ser pessoas físicas ou jurídicas.
— O banco atuará como um investidor líder, e a oferta vai servir como um selo de que a empresa tem condições de se desenvolver. Se a sociedade entender que faz sentido e apoiar com o restante, fechamos o negócio — explica Elias Graziottin Rigon, superintendente de captação, inovação e sustentabilidade do Badesul.
Um projeto piloto está previsto para ter início em fevereiro, quando o banco irá escolher uma entre quatro startups de Porto Alegre para participar do crowdfunding. Se o projeto der certo, o Badesul pretende disponibilizar até R$ 2,5 milhões anuais para investimentos dessa natureza.
Participação de universidades é destaque
Na quinta-feira, deve ser realizada uma nova reunião, para avaliar os resultados apresentados, projetar ações e incluir novas propostas no Pacto Alegre. Segundo o coordenador, Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, projetos que se desenvolveram pouco deverão hibernar para dar lugar a outros. As áreas a serem privilegiadas serão atração de investimentos, educação digital e fomento à criatividade.
Segundo o consultor espanhol Josep Piquè, que acompanhou o evento, o mais importante na fase inicial é colocar os agentes para trabalharem de forma conjunta e estabelecer diretrizes sólidas para que as ações possam se desenvolver futuramente.
Para o especialista, que já atuou em ações semelhantes em Medellín e Barcelona, a Capital avança em bom ritmo, e mostra uma peculiaridade positiva em relação a outras cidades: a atuação destacada das universidades.
— O modelo de Porto Alegre tem muitas coisas boas, mas a principal deles é o envolvimento das universidades, que têm mostrado grande capacidade de articulação. Em nenhuma cidade vi uma expressão tão explícita dessa liderança. É determinante para o sucesso do projeto, porque esse é um século do talento e da tecnologia, e quem detém essas duas coisas é a universidade — diz.
Os desafios para construir a Capital do futuro
- Blitz da Inovação: estímulo ao convívio da comunidade com os atores mais avançados do ecossistema de inovação da cidade.
- Cidadão Único: geração de uma identidade digital única que integre dados do cidadão.
- Cidade Transparente: acesso aos dados da prefeitura municipal de forma aberta e clara.
- Conecta POA - Trinova: plataforma para incrementar conexão e sinergia dos atores da cidade.
- Crowdfunding POA: ferramenta para o financiamento de startups (empresa em fase inicial).
- Cultura Cidadã – I LOVE POA: projeto para estimular e valorizar a cultura e postura cidadã na cidade.
- Diretrizes Urbanas Inovadoras - plano diretor: estimulação do desenvolvimento de ambientes urbanos adequados para as dinâmicas sociais do século XXI.
- Educação Transformadora: conexão e parceria da educação com o ecossistema de inovação e conhecimento da cidade.
- ENGAJA POA – Open City: plataforma para cuidados no uso do espaço público.
- Formação de Agentes de Inovação – MBA em Ecossistemas de Inovação ALIANÇA: Formação de agentes de inovação no meio público e privado, impulsionada pela Aliança pela Inovação.
- Hands On 4D: Revitalização criativa da região do Quarto Distrito (4D)
- Instituto Caldeira: um espaço para impulsionar transformações e novos negócios por meio da conexão entre empresas, startups e agentes de inovação.
- Intervenções Culturais – Pintando POA: pinturas e intervenções culturais em espaços públicos estratégicos, promovendo valorização da paisagem urbana.
- Licenciamento Expresso POA: simplificar, agilizar e implementar processos digitais para abertura e licenciamento de empresas.
- Marca de POA (Place Branding): desenvolvimento de uma marca que posicione e valorize a cidade.
- Mexe com POA – do centro à periferia: campanha de engajamento e ativação das pessoas por meio do esporte e educação.
- Olimpíadas da Inovação POA: atividades para promover a cultura do empreendedorismo e da inovação na comunidade estudantil.
- POA 2020: articulação da agenda de eventos de Porto Alegre em evento anual com foco em economia criativa e inovação.
- Professor Inovador: iniciativas para engajar professores como agentes de indução para elevar o padrão do ensino público de Porto Alegre.
- Rotas de POA: consolidação e divulgação articulada de rotas baseadas nos principais ativos e iniciativas da cidade.
- Saúde Digital: uma plataforma de compartilhamento de informações de saúde integrada por toda a cidade.
- SMART CITY – Todas Gerações: desenvolvimento de uma SMART POA com atenção especial a crianças e idosos.
- Start.Gov: disseminação da cultura startup como ferramenta de modernização da administração pública.
- WOnd3r - Água Maravilhosa: ações de valorização da relação da cidade com a água.