A refeição popular está de casa nova em Porto Alegre. Hoje, serão inaugurados os dois novos restaurantes populares da cidade. Criados sob o selo de Prato Alegre, os locais são frutos de uma parceria da prefeitura com organizações sociais civis de interesse público (Oscips). Os locais vêm para preencher a lacuna deixada pelo Restaurante Popular, que funcionava no bairro Floresta e foi fechado em maio deste ano.
Os novos espaços ficam na região central, próximo ao antigo estabelecimento, e no Morro Santa Tereza, na zona sul da Capital. Juntos, eles servirão 300 almoços por dia — 200 na região central e outros 100 na Zona Sul. A abertura, hoje, chega com a atraso em relação à promessa da prefeitura, que era de colocar os locais em funcionamento em novembro.
Visita
Na véspera do Natal, dia 24, GaúchaZH conferiu como os espaços estão sendo preparados para receber as pessoas em situação de vulnerabilidade social. A proposta da prefeitura é que os locais ofereçam atendimento para além da comida. Assistências social, de saúde, palestras, workshops e até ofertas de emprego estão entre as promessas do Prato Alegre. Serão atendidas somente pessoas encaminhadas pelos serviços de assistência social da prefeitura. As refeições são gratuitas.
Fisicamente, ainda não há reserva específica de espaço para estas atividades, mas, segundo a associação Beith Shalom, responsável pela gestão dos restaurantes, o atendimento deverá ser feito no salão onde as refeições serão servidas. As vagas de emprego e outros avisos também estarão expostos em murais em cada um dos locais.
Em seu novo endereço no bairro Floresta, o bandejão ficará na Rua Garibaldi, nas proximidades da Estação Rodoviária. O prédio onde está instalado o restaurante já abrigou uma igreja. Por isso, ainda há um palco no local, que será utilizado para as atividades propostas. As mesas disponíveis são de materiais distintos: a maioria, de madeira, calçadas por cavaletes, e outras de plástico, assim como todas as cadeiras. O ambiente é iluminado e, durante a visita da reportagem, mesmo com o calor no lado de fora, o clima estava agradável no interior do prédio. A cozinha fica perto da entrada, no andar superior.
Zona Sul: revezamento em turmas
As instalações espaçosas da região central contrastam com o espaço mais singelo da Zona Sul. Localizado em uma casa na Rua Dona Otília, o restaurante atenderá ao chamado eixo Sul/Glória/Cruzeiro/Cristal. A residência de dois pavimentos deverá receber os frequentadores em turmas, para que o espaço comporte todo mundo.
O atendimento começa às 11h e vai até as 14h, mesmo horário de funcionamento da unidade do bairro Floresta. As mesas estão dispostas nos espaços onde seriam as salas de jantar e de estar. Rosemiro Vargas será o responsável pela articulação com os frequentadores.
— Vamos conversar bastante com o pessoal, buscar um encaminhamento para aqueles que se interessarem, principalmente, em emprego — projeta Rosemiro.
Presidente da Beith Shalom, Niles Kael Junior diz que a entidade está ansiosa pelo amadurecimento do trabalho. Isso porque a associação já é conhecida pelo Projeto Amor, que distribui refeições gratuitas, toda semana, a moradores de rua da Capital:
— Vamos seguir com este amor e cuidado. Isso que nos ajudará a gerar transformação e oportunidades para estas pessoas, mudando suas realidades. Temos muito que aprender, por isso, será um ano especial.
Mais locais em 2020
Além dos dois restaurantes que abrem as portas hoje, mais três unidades devem chegar ao longo de 2020. No novo chamamento público, divulgado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Esporte (SMDSE) no final de novembro, os eixos contemplados atendem a bairros como Centro Histórico, Restinga, Lomba do Pinheiro e Partenon.
A Beith Shalom apareceu novamente entre os selecionados. Ela foi a entidade que apresentou melhor proposta para o segundo estabelecimento que será aberto no centro e para o da Zona Leste. A outra Oscip selecionada foi o Centro Social da Paróquia Nossa Senhora Aparecida da Restinga. A entidade venceu o lote responsável por prestar atendimento para o bairro e comunidades do centro sul e extremo sul de Porto Alegre.
Durante o período em que não houve residência fixa para o bandejão, a prefeitura tem servido almoços no Ginásio Tesourinha. O serviço, fruto de uma parceria com a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), segue até o dia 31.
Três décadas no comando das panelas
Quem visitar os restaurantes administrados pela Beith Shalom provará almoços supervisionados por um chef experiente. Com 30 anos à frente da cozinha do V Comando Aéreo Regional (V Comar), em Canoas, Zanfir da Silva, 52 anos, está acostumado a servir grandes públicos.
— Fazia comida para mais de 1,5 mil pessoas — recorda ele, que também administra uma empresa de bufê para festas e eventos.
O trabalho para o Prato Alegre é voluntário, assim como foi para boa parte das pessoas que auxiliavam nos ajustes finais do prédio da região central na terça-feira, durante a visita da reportagem.
— Quando ampliarmos para os outros locais, vou seguir dando essa consultoria ao pessoal que vai cozinhar. É um trabalho que gosto muito — conta o cozinheiro.