Para quem não sabe o que é o número 80 da Avenida Carlos Barbosa, em Porto Alegre, igreja passa longe de ser um dos primeiros palpites. Tem um grande toldo branco na frente da fachada, com varais de lâmpadas suspensos, algumas mesas de madeira e um cheiro de churrasquinho que te alcança já na calçada. Lembra alguma casa noturna descolada de Atlântida ou um bar de cervejas artesanais da Capital.
Lá dentro, o momento que chamam de louvor lembra um show de rock. Há três telões de LED, máquinas de fumaça e canhões de luzes coloridas voltadas ao palco. Uma menina de dreads e outra de calças rasgadas no joelho cantam na banda composta por um tecladista, um baixista, um violonista, um baterista e um guitarrista, todos jovens, para um público também majoritariamente jovem — e cheio de hipsters.
Usando boné e uma camiseta com a bandeira da Itália, Marcio Schorn, 23 anos, fecha os olhos, levanta o braço tatuado e pula em alguns momentos, entregue à música da Brasa Church Music — "o nosso Deus é vencedor" era o refrão de um das canções. O jovem, que trabalha como tour leader em uma agência de viagens, cresceu em igreja evangélica. Saiu por decisão própria com 12 anos e, quando decidiu voltar a frequentar cultos, escolheu a Brasa porque gostou da forma que ela comunica, com uma linguagem "mais atual". Claro que a banda — composta apenas por voluntários — ajudou.
— É a hora de trocar uma ideia com Deus dentro da música. É como qualquer tipo de ritmo que tu curte: quando tu tá na praia, ouve um reggae, e pensa: "bah, essa é a vibe" — explica Schorn.
Quatro meninas, de 17 a 27 anos, compunham a equipe de produção naquele sábado de culto. Circulando para lá e para cá com grandes fones de ouvidos de microfone acoplado, acompanham o cronômetro que fica exposto em uma das paredes da igreja para ver se está tudo dentro do cronograma estipulado, correm para trocar as pilhas do microfone se necessário e para regular o ar-condicionado para a temperatura ideal. Existe a preocupação de que todos os detalhes estejam impecáveis, como num verdadeiro espetáculo. Liz Johnson, 27 anos, vocalista da banda, explica:
— Primeiro que Deus merece o nosso melhor. E também é importante criar um culto onde as pessoas não se distraiam, que não fiquem pensando se a luz está boa, se o som está bom, se o banheiro está limpo. Para que elas consigam ter um verdadeiro encontro com Deus.
Criada por Mauricio Martins, 42 anos, que além de pastor é empresário na área financeira e na construção civil, a Brasa Church foi inspirada em igrejas que ele conheceu na Austrália e nos Estados Unidos. Surgiu como o braço jovem da Primeira Igreja Batista Brasileira de Porto Alegre, que existe há 110 anos e já era apelidada de Brasa.
Maurício ressalta que é difícil dormir num culto por ali. Depois do show de 35 minutos, começa a pregação por outros 35 minutos, mais ou menos, não dando tempo para os fiéis ficarem dispersos e perderem o interesse. Ele lembra até um professor universitário, ao se certificar disso de vez em quando.
— Tão comigo?