O olhar atento de Miguel Gómez alterna entre a direita e a esquerda do Pavilhão do Artesanato. Passam, apressados, prendas e peões. Alguns até param em frente ao estande da Livraria Calle Corrientes, cumprimentam o livreiro e observam a capa de dois ou três exemplares. Mas se despedem e caminham em direção ao próximo expositor.
As 25 caixas com 60 livros cada, transportadas especialmente para o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, vão voltar quase cheias para a sede da livraria, no Centro Histórico. Há 15 anos expondo no Piquete da Leitura, o jornalista de 67 anos afirma nunca ter vendido tão pouco no Acampamento Farroupilha.
— Teve dias em que não saiu um exemplar — lamenta o argentino de Buenos Aires, que reside no Brasil há 40 anos.
A baixa nas vendas — estimada por ele em 30% — é atribuída a fatores diversos. No vasto rol estariam, dentre outros, a crise econômica, os dias chuvosos que afugentaram visitantes do parque, e o crescente desinteresse pela leitura, especialmente em meio ao público jovem.
— Passam muito tempo no celular. E não são só eles, vejo por mim mesmo. O tempo que fico na internet poderia estar sendo dedicado a um livro — afirma Gómez, antes de se dispersar com um grupo folclórico que se aproxima do pavilhão, contornando a estátua do poeta gaúcho Jayme Caetano Braun.
Obras de poesia gauchesca, por sinal, são as mais requisitadas ao expositor, que no dia de maior movimento vendeu 10 livros. As opções, entretanto, vão muito além: contos, política, culinária, vestimenta e personagens locais compõem o estande, especializado em cultura gaúcha.
Dentre os itens, cujos preços vão de R$ 10 a R$ 375, estão os assinados por João Simões Lopes Neto e Paixão Côrtes. Apesar do pouco movimento, Gómez comemora o interesse de alguns clientes, que compram títulos raros independentemente do preço.
— Tem quem valorize, sim. Continuo achando que vale a pena.