É o último dia de Acampamento Farroupilha, mas a ordem é fazer a tradição valer até os últimos instantes no piquete Espora de Prata. Passava das 15h deste domingo (22) quando Fillip Holland, 27 anos, fitava sua obra-prima: um costelão de 22 quilos, suspenso com segura distância do braseiro, já corado pelo calor.
— Está no fogo desde às 8h e vai sair pelas 20h ou 21h. Até agora, dei só uma viradinha. Vai ser para finalizar — comentou o churrasqueiro, projetando a boia de encerramento.
O dia ensolarado colaborou para levar grande público ao acampamento, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre. Como de costume, havia churrasco farto nos 354 piquetes, parte deles com música ao vivo para embalar a dança dos casais e o canto daqueles que preferiam apreciar o som sentados às mesas. Crânios de boi, rodas de carreta, instrumentos de ferro, bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul adornavam os galpões de madeira. Fiéis à tradição, muitos dos frequentadores estavam pilchados, mas a maioria usava trajes urbanos. Também havia grande quantidade de homens e mulheres com camisas da dupla Gre-Nal.
Jefferson Lopes Marques, 34 anos, frequentou a festa por oito dias. Neste domingo, sentado em um tora de madeira, sorvia o chimarrão e, com uma caixa de som portátil, escutava o músico tradicionalista Gildo de Freitas.
— Eu até choro às vezes ouvindo Gildo e Teixeirinha — conta o emotivo gaudério.
Com dois tonéis tomados por fogo em brasa, Guido Coelho, 58 anos, fazia o churrasco de despedida no piquete Chama Nativa, que reúne funcionários do Grupo Hospitalar Conceição. Frequentando o acampamento religiosamente desde 3 de setembro — antes mesmo da abertura oficial da festa, que ocorreu no dia 7 —, Coelho já havia assado 40 quilos de carne somente neste domingo, com destaque para a costela de gado, variedades de suíno e linguiça.
— No geral, deu uma boa melhorada no acampamento — avalia Vitor Recova, 52 anos, vice-patrão do Chama Nativa.
Ao ouvi-lo tecer o elogio, Cândido Brasil, 50 anos, responsável pelo departamento cultural do piquete, fez uma ressalva.
— As ruas nunca estiveram tão esburacadas. A prefeitura não bota mais nada, não se pensa no público — diz.
De fato, desde 2016, a organização e o financiamento dos festejos farroupilhas ficam a cargo do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG). Não há mais aporte de dinheiro público para bancar custos gerais como água, luz, estrutura, limpeza e shows. Nairo Callegaro, presidente do MTG, fez balanço otimista desta edição. Ele afirma que foi batida a marca de um milhão de visitantes nos 15 dias de acampamento, o que indica um crescimento ante os 800 mil de 2018, ano no qual houve queda de público na comparação com 2017.
— Foi muito positivo, houve uma retomada e voltamos a ter números crescentes — diz Callegaro.
Um dos fatores destacados por ele foi a decisão de aproveitar o feriadão de sexta-feira a domingo para estender a festa em dois dias. Neste ano, em vez de terminar no 20 de setembro, o acampamento se espichou até o dia 22. Desde o início da atração, o parque contou com 40 estabelecimentos alimentícios, 80 bancas de artesanato, um açougue e um mercado.
— Agradeço aos piquetes pela colaboração, eles são fundamentais neste modelo em que nós gerenciamos e fazemos todas as contratações de serviços e de construção do acampamento — relata o presidente.
Nesta segunda-feira (23), começa a desmontagem das estruturas. Ano que vem a gauchada volta.