Porto Alegre

Desafio de engenharia

Construída em lençol freático, trincheira da Ceará recebe 15 litros de água por minuto

Em razão da umidade que chega às paredes, foi montado esquema de bombeamento

Marcelo Gonzatto

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André Ávila / Agencia RBS
Água do solo verte por dezenas de pequenos canos inseridos nas paredes da estrutura e segue até um poço onde é sugada

 Entre os muitos problemas enfrentados em quase sete anos de obra na trincheira da Avenida Ceará, em Porto Alegre, além de falhas de projeto, burocracia e falta de recursos, um elemento aparentemente simples continuará a desafiar a estrutura de concreto e aço: água. A cada minuto, mesmo com sol a pino, em média 15 litros vertem para dentro da passagem escavada na Zona Norte. Isso ocorre porque a obra foi feita em meio a uma espécie de rio subterrâneo.

Apenas 1m20cm abaixo do nível superior da rua, à meia altura das paredes de concreto que sustentam a trincheira, há um lençol freático. Para conter tanta umidade e evitar que a pista fique submersa, a construção conta com recursos de engenharia e um mecanismo de bombeamento projetado para ser operado de maneira remota desde a sede do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).

Na avaliação de técnicos do município, a trincheira da Ceará mais se parece com um "barco" lançado ao solo lodoso. À semelhança do casco de uma embarcação de grande porte, o leito da via conta com espécie de "lastro" destinado a manter a estrutura bem fixada no chão instável. A pista conta com nada menos do que cinco camadas de laje e concreto. Além disso, duas paredes subterrâneas descem a 26 metros de profundidade para garantir a estabilidade da passagem.

— A Ceará é uma obra ímpar em Porto Alegre porque foi executada dentro de um lençol freático. Praticamente, dentro d'água. Isso não estava detalhado no anteprojeto — afirma o titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim), Marcelo Gazen.

Para impedir que a barcaça de concreto acabe inundada — temor de muitos motoristas —, foi previsto um sistema de escoamento de alta capacidade. Ele inclui a colocação de drenos nas paredes, por onde o excesso de líquido escorre para canaletas implantadas dos dois lados da via. Para lá também corre a água da chuva. A canalização conduz o volume captado para um poço em que há três bombas de sucção (com gerador a diesel em caso de falta de luz): duas com capacidade de puxar 88 litros por segundo, que deverão funcionar alternadamente, e outra com metade dessa capacidade como recurso de segurança.

Originalmente, estavam previstos dois equipamentos. Com a migração da estrutura do antigo Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) para o Dmae, que conta com critérios próprios, foi incluído no projeto uma terceira bomba. O ideal, segundo o secretário-adjunto da Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão, Daniel Rigon, é que tivesse sido adotada desde o início uma solução de engenharia que evitasse o contato direto da água com as paredes.

— Uma das possibilidades é que colocassem camadas de pedras contidas em telas, como existem nas margens de estradas da Serra, por exemplo, atrás das paredes da trincheira. Assim, a água escoaria entre as pedras e poderia ser recolhida lá embaixo — exemplifica Rigon.

Como isso não foi feito, restou recorrer aos mecanismos contra inundação — que incluem ainda a injeção de material impermeável, por meio de pequenos orifícios no concreto, em pontos da estrutura em que são identificados vazamentos.


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