Foi suspensa na manhã desta quarta-feira (29), por motivos de segurança, a desocupação de um prédio pertencente à prefeitura de Porto Alegre na Rua Baroneza do Gravataí com a Rua Dezessete de Junho, no bairro Menino Deus. No início do mês, a Procuradoria-Geral do Município (PGM) havia entrado com pedido na Justiça, que deliberou pela ordem de despejo.
No começo da manhã, a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) chegou a isolar a área para a desocupação. Já a Brigada Militar realizou reunião com outros órgãos para organizar a retirada das famílias que integram a chamada "Ocupação da Baronesa", mas a medida foi suspensa por volta das 8h30min.
Segundo a BM, a decisão foi "estratégica". Uma nova data será marcada para cumprimento da ordem judicial.
Quando informados da decisão, houve comemoração e gritos de "resistir e ocupar" por parte dos moradores.
— O coração dispara. Assim, em cima da hora, foi um sufoco — conta Adriana Fraga da Silva, 41 anos, que vive com a filha e três netas no local.
Ocupação no Menino Deus
Desde o dia 28 de março, 10 famílias estão vivendo no local. O grupo faz parte da chamada "Ocupação da Baronesa", movimento que diz ter como objetivo a "luta pelo direito de morar e contra o abandono da cidade e dos seus cidadãos".
O prédio possui dois andares e, antigamente, havia sido cedido pela prefeitura para a Brigada Militar (BM). No entanto, estava desocupado há alguns anos.
No dia 25 de março, parte da estrutura pegou fogo – quem passa pelo local consegue ver que boa parte do teto do prédio está destruído. Os moradores dizem que entraram depois do incêndio, pois perceberam que se tratava de um imóvel público sem utilização.
Fábio Polycarpo, 39 anos, vive no prédio com a esposa e os cinco filhos – com idades entre dois e 12 anos. Vindo de outro local em que foi despejado, ele conta que as crianças estão matriculadas em uma escola do bairro e afirma achar injusta a retirada.
— É mexer com vidas. A luta pela moradia não deveria ser uma luta, mas sim um direito — diz.
A coordenadora do movimento, Alice de Oliveira Martins, afirma que o prédio era antes dominado por dependentes químicos.
— Tinham usuários de drogas que usavam o local. A gente limpou, organizou. Por que nos retirar, se ninguém usa? — questiona.
Em maio, o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) esteve no local e interrompeu o fornecimento de água no edifício. Segundo o órgão, o prédio tinha uma ligação clandestina.