A pista de desfiles do Porto Seco, na Capital, não verá os Embaixadores do Ritmo desfilando ao som de seu de seu último samba-enredo. A canção tem um título saudoso: “O samba agoniza, mas não morre.” A ausência na Avenida se dará pois o dia 11 de fevereiro, próxima segunda-feira, simbolizará, além do aniversário de 69 anos da agremiação com berço no bairro Rubem Berta, o encerramento de suas atividades.
É o fechamento de um ciclo, como definem membros da família Giró, que dirigiram a escola durante a maior parte de sua existência. A incerteza quanto à continuidade dos trabalhos já estava deixando o samba atravessado há algum tempo. O método de trabalho dos Embaixadores – sustentado pelo dinheiro dos desfiles, já que a escola não possui quadra para os ensaios – fez com a agremiação se retirasse do Carnaval deste ano. O evento está sendo organizado sem dinheiro da prefeitura.
Perda
Além de questões financeiras, o ato que silenciou de vez a bateria do Embaixador veio na manhã de 25 de janeiro. Aos 87 anos, o principal fundador e presidente de honra da escola, Adolfo Giró, faleceu devido às complicações de um infarto. Seu filho, Gustavo, conhecido como Girozinho, entendeu que a escola deveria acabar.
– Prometi a ele que, enquanto estivesse vivo, manteríamos a escola. Ele e a Embaixadores eram um só. Então, agora, não faz sentido um existir sem a presença do outro – relata Girozinho.
O último ato da Embaixadores foi no velório de Giró, quando a bandeira da agremiação foi saudada pela última vez. O discurso oficial virá pelas ondas da Rádio Gaúcha. Na virada de domingo para segunda-feira, Gustavo estará no programa Gaúcha no Carnaval, do comunicador Cláudio Brito.
Mudanças
A Embaixadores do Ritmo sempre foi uma escola dos Giró. Depois de Giró e Girozinho, Briana Giró, filha de Gustavo, assumiu a presidência – cargo que ocupa há quatro anos. Para ela, o encerramento das atividades é triste, mas necessário:
– Estamos duplamente sentidos. Primeiro, pela perda do vô. E depois pelo fim da escola. Mas a escola deveria existir enquanto ele estivesse conosco. Agora, não faz mais sentido.
No barracão estão as fantasias, instrumentos e carros alegóricos. Parte será vendida e usada para quitar pendências da escola. Os carros alegóricos ficarão no local até segunda ordem. Caberá à Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa) fazer os rearranjos. As mudanças devem começar depois dos desfiles, que ocorrerão nos dias 15 e 16 de março.
– É com tristeza que vemos o ocorrido. Ainda assim, a Liespa respeita o que foi tratado entre pai e filho – afirma Juarez Gutierrez, presidente da liga.
Lar de oportunidades
– Nunca vivemos do Carnaval. Vivemos para o Carnaval. Não prometíamos mundos e fundos para quem estava conosco, éramos sinceros. Por isso, todos que passaram por aqui ainda nos respeitam. Fomos uma escola de todos – define Girozinho, explicando a razão pela qual a escola conseguiu ser tão longeva.
Entre 2010 e 2017, Joubert Luiz Machado dos Santos, 39 anos, dirigiu a bateria Guerreira, que tocava os sambas da Embaixadores. Foi ali que ele começou na área e onde alcançou a maior conquista da carreira: o vice-campeonato do Carnaval de 2015.
– O Giró me deu oportunidade de comandar a bateria, foi a realização de um sonho. Recebi a notícia com tristeza, mas sempre vou me considerar parte desta família que foi a Embaixadores – confessa Joubert, que agora integra a Unidos de Vila Isabel, de Viamão.
Resistir e lutar
Ele ainda faz shows particulares com bateria Guerreira, nome que manteve em homenagem à Embaixadores.
E não é só quem fez parte da escola que expressa a saudade que as alas da agremiação vão deixar. Para o presidente da Imperadores do Samba, Érico Leoti, o fim da Embaixadores “é uma perda irreparável para o contexto geral do Carnaval”:
– O Giró era um ícone, nos inspirou na paixão e no apreço pelo Carnaval. Sempre conduziu com maestria a escola, até nos momentos mais difíceis, mostrando a importância de resistir e lutar. Por isso, o encerramento é triste, mas respeitamos a decisão da família.