A imagem da passarela de madeira sobre o Arroio Dilúvio, na Avenida Ipiranga, perto do prédio da CEEE, não transmite segurança. E não é só sensação de quem olha: a prefeitura de Porto Alegre sequer cogita reparos, afirmando que "a vida útil dela terminou".
Apesar dos riscos e de ter sido interditada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim), a estrutura segue sendo utilizada por pedestres que ignoram o mau estado de conservação e a sinalização para que não seja usada.
De um dos lados, a ligação com a ciclovia é feita por pedaços de madeira, de forma improvisada. No meio da passagem, mais tábuas foram colocadas para tapar o buraco de cerca de um metro que formava uma lacuna. Entre as tábuas, há vãos que deixam o dilúvio à mostra ao longo do caminho. A passarela também apresenta um desnível.
Construída há 20 anos em uma parceria com a companhia elétrica, a estrutura foi interditada depois que um relatório da equipe de fiscalização da Smim determinou a retirada — o que ainda não tem prazo para ocorrer. O estudo prevê a colocação de uma nova passagem.
Funcionários de uma oficina de veículos da Ipiranga lembram que o local foi sinalizado com faixas no final do ano passado para que não fosse mais utilizado, mas os acessórios foram removidos. Pedaços de madeira, que foram pregados para proibir o acesso à ponte, também sumiram alguns dias depois — os tocos podem ser vistos na entrada da estrutura.
— As tábuas foram tiradas no chute mesmo. A gente vê até moto retornando por ali, para pegar o outro sentido da Ipiranga — conta Graciele da Rosa, 28 anos.
Cesar Augusto Alves Sant'Anna, 38 anos, mora na região há 12 anos e sempre usou a passagem.
— Se tirarem, vai ficar muito ruim pra gente. Fica longe para contornar, então o pessoal não quer abrir mão.
Sem a estrutura, há duas alternativas: andar até a Avenida Joaquim Porto Vilanova, uma caminhada de cinco minutos, ou até a Antônio de Carvalho, a cerca de um quilômetro dali.
Com dificuldade para locomoção devido a um problema na perna, Leonilde Viam, 76 anos, atravessa a passarela deteriorada com a ajuda das muletas.
— Podiam fazer uma de concreto, que nos desse mais segurança. Dá para ver que está ruim, mas acabo tendo que usar, ou teria que fazer um contorno muito maior — argumenta.
Em cerca de meia hora, a reportagem contou mais de 50 pessoas utilizando a passarela perto do horário de almoço nesta sexta-feira (4) — não havia nenhuma sinalização que indicasse a interdição.
Na tarde desta sexta-feira, a prefeitura instalou uma placa de sinalização fixa nas entradas da passarela, alertando para o risco de queda. Conforme a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), a sinalização é retirada do local com frequência e precisa ser recolocada. A prefeitura afirma que busca parcerias para a construção de uma nova passarela.