
Por volta das 16h do dia 2 de janeiro, viver em Porto Alegre não era uma experiência tão distante de estar em uma sauna úmida — com a diferença de muita gente já não estava relaxando, mas de volta ao trabalho. Quando os termômetros bateram 38,1ºC, combinados com a umidade relativa do ar de 45% e uma brisa que mal se podia perceber, pouco mais de 10km/h, a sensação térmica de quem tentava existir fora do ar condicionado atingiu 46,1ºC, a maior entre todas as capitais brasileiras.
Foi a temperatura mais alta do verão até agora, mas não a única a fazer com que o apelido de Forno Alegre soasse tão apropriado. Em 17 de dezembro, pouco antes do verão começar, a capital gaúcha fez cidades como Cuiabá e Rio de Janeiro parecerem amadoras em matéria de calor: os termômetros marcaram 36,8ºC, e a sensação térmica chegou a 47,4ºC. Antes disso, em 14 dezembro, quando a máxima foi de 35,7°C, ela aproximou-se dos 41,5°C.
A maneira como percebemos a temperatura, que muitas vezes difere do que indicam os termômetros, é uma estimativa calculada sobre três variáveis: temperatura real, umidade relativa do ar e velocidade dos ventos. Quanto mais alta a temperatura, maior a umidade do ar e menor a velocidade do vento, mais intensa é sensação de estar sendo cozido em fogo lento que os porto-alegrenses conhecem tão bem. Isso porque, explicam os meteorologistas, a capital gaúcha está situada em uma espécie de fronteira climática entre a formação das áreas de ar polar e o ar quente da região amazônica. Entre outros fatores, isso faz com que a chegada das frentes frias seja frequentemente bloqueada nessa época do ano, e a cidade retenha o calor e a umidade até a chegada da chuva.
— A sensação de abafamento é normal da estação. O que não é normal é ficar tanto tempo sem chuva. A superfície já vinha aquecendo, e com o bloqueio da frente fria ficou mais quente ainda — diz o meteorologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Gilberto Diniz.
O meteorologista explica que os dias de calor abafado são condicionados por diversos fatores que podem bloquear ou não a chegada de uma frente fria. A chamada sensação térmica, que é um valor estimado, também pode variar de um organismo para outro, de modo que nem todos devem perceber com a mesma intensidade os dias de calorão.
A má notícia é que, ao que tudo indica, este será um verão propício para fazer sauna a céu aberto na Capital. Segundo o boletim climático divulgado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e pelo Centro de Pesquisa e Previsões Metorológicas da UFPel em dezembro, as águas mais aquecidas entre a costa da Argentina e o Rio Grande do Sul contribuem para o aumento da umidade, especialmente no leste e no sul do Estado. O prognóstico para os meses de janeiro, fevereiro e março aponta ainda para chuvas espalhadas pelas regiões — não em todas ao mesmo tempo — e, por consequência, picos de temperatura diferentes em cada área, especialmente durante o dia.
Pelo menos ao longo do fim de semana, no entanto, os porto-alegrenses devem ter uma trégua do calor estilo forno elétrico. A chuva que chegou nesta quinta-feira derrubou as temperaturas — a máxima nesta sexta-feira ficou em 26ºC. Os termômetros devem subir gradativamente até a chegada de outra frente fria.
— Agora vamos ter alguns dias de chuva que não deixam esquentar tanto, e de domingo para segunda deve entrar uma nova frente. Mas ela também não está conseguindo andar muito, o que pode caracterizar um novo bloqueio — sinaliza o meteorologista do Inmet Rogério Rezende.
Fenômeno climático que costuma aumentar a incidência de chuvas no Rio Grande do Sul, o El Niño ainda se apresenta tímido, e não apresenta influência significativa sobre o clima até o momento.
Veja a previsão para os próximos dias:
Sábado: tempo firme com nebulosidade. Mínima 19ºC e máxima 29ºC.
Domingo: dia começa com tempo firme, mas pode ter pancadas de chuva à noite. Mínima 21ºC e máxima 32ºC.
Segunda-feira: tempo firme pela manhã e instabilidade à tarde, com possibilidade de chuva e trovoadas. Mínima 23ºC e máxima 35ºC.