Não foi por falta de previsão que parte de Porto Alegre sofre a falta quase diária de água. Em 2011, conforme a atual direção do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), o órgão já havia realizado estudo apontando que as zonas leste e sul da cidade caminhavam para o desabastecimento pelo contraste entre a capacidade de fornecimento e o crescimento do consumo.
A solução encontrada foi a construção de uma nova estação de tratamento, batizada Ponta do Arado, no sul da cidade. A estrutura deve ser capaz de gerar 2 mil litros de água por segundo — o dobro da capacidade do sistema Belém Novo. Ao prever ainda novos reservatórios e bombas de distribuição, o projeto seria suficiente para resolver a escassez em bairros nas áreas leste e sul.
— O problema é que a obra nunca foi feita. Estamos buscando um financiamento para realizar esse investimento agora — afirma o diretor-geral do Dmae, Darcy Nunes dos Santos.
O valor total do novo sistema chega a R$ 280 milhões, mas a prefeitura busca assinar contrato de R$ 232 milhões. Isso permitiria a construção das estruturas principais, como a estação de tratamento da água. Obras complementares seriam custeadas com recursos próprios do Dmae.
Santos diz que gestões anteriores deixaram de fazer a obra, entre outras razões, pela decisão de que a autarquia superavitária deveria socorrer os cofres do município. Entre 2013 e 2016 (na gestão de José Fortunati), por exemplo, teriam sido repassados R$ 262,7 milhões do Dmae para o caixa único. Descapitalizado, o departamento não conseguiu tocar os investimentos necessários.
— Houve uma decisão de não iniciar (a obra). Decidiram postergar para um outro momento e socorrer (financeiramente) a prefeitura — relata Santos.
Procurado por GaúchaZH, o ex-prefeito José Fortunati disse que não poderia se manifestar sobre a descapitalização do Dmae. Perguntado sobre as transferências que teriam impedido a realização de melhorias no abastecimento, declarou:
— Não lembro. Não poderia responder neste momento.
Diretor-geral do Dmae entre 2015 e 2016, Antônio Elisandro de Oliveira entrou em contato com GaúchaZH após a publicação desta reportagem. Ele afirma que os projetos para a obra na Zona Sul se iniciaram na gestão de seu antecessor, Flávio Presser, e prosseguiram nos anos seguintes, com a busca de financiamento com o governo federal.
— Iniciamos uma adutora em 2016, que é uma das obras da ampliação de abastecimento da Zona Sul — acrescenta.
Ele afirma ainda que a atual gestão descontinuou projetos antigos, como de manutenção para evitar desperdícios, e que o problema da falta de água enfrentado atualmente poderia ser amenizado com uma obra paliativa — expansão da unidade no Belém Novo —, já que a estação de tratamento Ponta do Arado levará anos para ser construída.
Se tudo der certo e a licitação para a Ponta do Arado sair no segundo semestre deste ano, como a obra deve demorar três anos, poderá ficar pronta apenas no final de 2022.