A cidade de Alvorada, na Região Metropolitana, amanheceu sem recolhimento de lixo pelo sexto dia consecutivo nesta quinta-feira (13). Quem circula pelas ruas encontra um cenário de abandono: dezenas de sacos de lixo se acumulam em diferentes bairros da cidade.
Na manhã desta quinta, a reportagem de GaúchaZH encontrou sacos de lixo acumulados no entorno de lixeiras, em paradas de ônibus e até em cima de um carro. Em alguns pontos, animais de rua reviram o lixo, espalhando resíduos e, consequentemente, mau cheiro pela cidade.
No posto de saúde do bairro Formosa, os funcionários tiveram de encontrar um jeito de os cachorros não pegarem o lixo: os sacos foram pendurados na grade que fica em frente à unidade.
— O posto está em obras, e não temos mais como deixar o lixo na parte de trás. Também não podemos ficar com o lixo dentro do posto. Na esperança de o lixeiro passar, decidimos pendurar os sacos do lado de fora. Penduramos no alto para evitar que os cachorros de rua revirem tudo e espalhem a sujeira — contou uma funcionária do posto que prefere não se identificar.
Perto dos sacos de lixo, os moradores formavam fila para o atendimento na manhã desta quinta-feira. Muitos procuravam a reportagem para reclamar.
— Chama mais a atenção porque não tem recolhimento nem nas unidades de saúde. Já está há vários dias assim. Além de a cidade ficar suja, o mal cheiro é horrível — relatou Marta Trindade, que esperava atendimento médico.
No bairro Bela Vista, as três lixeiras colocadas em frente a um condomínio não davam conta de receber todo o lixo acumulado durante a semana, e os sacos se espalhavam no entorno enquanto dois cachorros rasgavam algumas sacolas. Perto dali, no bairro Jardim Algarve, uma moradora esperava o ônibus ao lado de sacos de lixo.
— É horrível. O bairro já é sujo, e vai ficar ainda pior se não derem jeito. Isso sem falar no fedor que está a cidade — reclamou Rosângela Corrêa, moradora do bairro.
Impasse com empresa responsável
A empresa responsável pelo recolhimento de lixo na cidade é a Ecopav. A paralisação dos funcionários começou na manhã do último sábado sob a alegação de que eles não receberam os salários de agosto.
A prefeitura garante que todos os pagamentos estão sendo feitos em dia e que caminhões da prefeitura fazem o recolhimento parcial. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o prefeito José Arno Appolo do Amaral disse que o fornecimento do serviço deve ser normalizado “o mais rápido possível”, mas não forneceu previsão concreta:
— Não há desleixo. A empresa envolvida está negociando com a Justiça do Trabalho, e estamos dependendo de determinação judicial. Se o serviço não for retomado, vamos suspender o contrato e contratar outra. Estamos apenas cumprindo decisão da Justiça, mas é evidente que vamos resolver isso o mais rápido possível.
O impasse judicial a que o prefeito se refere é uma ação movida por um grupo de funcionários e ex-funcionários na Justiça do Trabalho. Eles alegam que muitos foram demitidos sem receber valores devidos e, por isso, em agosto, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 205 mil referentes a janeiro, mais R$ 100 mil por mês a partir de setembro. Os valores bloqueados são os repassados pela prefeitura de Alvorada, entendida como uma das poucas fontes de renda da empresa no momento.
Na noite passada, a Justiça homologou um acordo entre a Ecopav e o grupo de funcionários e ex-funcionários que moveu a ação. Assim, parte da verba que estava bloqueada será encaminhada para pagamento dos valores devidos aos trabalhadores. A medida, no entanto, não garante a retomada do serviço em Alvorada, já que os trabalhadores seguem reivindicando os salários de agosto.
A reportagem tenta contato com a Ecopav durante toda a semana. Nesta manhã, uma funcionária informou por telefone que a empresa só se manifestaria por e-mail. A mensagem ainda não foi respondida.