Correção: esta reportagem informou entre 20h54min de sábado e 10h30min de domingo que os novos deques têm limite de peso. A informação correta é que o mirante montado junto aos deques tem limite de peso. Os deques não têm restrição. A informação já foi corrigida no texto.
A noite virou dia à beira do Guaíba. A nova e potente iluminação à margem das águas que fizeram fama a Porto Alegre conseguiu mudar hábitos de décadas: milhares usaram a noite deste sábado (30) para passear na orla, algo impensável até dias atrás, devido aos riscos de crimes. Pois moradores de toda a cidade, da Região Metropolitana e turistas venceram os temores e perambularam junto às águas até tarde, desfrutando daquilo que parece uma versão gaúcha (mini e modesta) do belíssimo Puerto Madero dos argentinos.
A reportagem conferiu o novo cartão-postal de Porto Alegre, o trecho revitalizado de 1,3 quilômetro entre a Usina do Gasômetro e a Rótula das Cuias, entre a tarde e a noite. A multidão teimava em não arredar pé, fascinada pelos atrativos, que são muitos: deques de madeira que fazem curvas em cima do rio, ciclovia reluzindo em tintas vermelhas, bicicletários, quadras esportivas, banheiros novos em folha, espaço para food-trucks no lado voltado para o Parque Maurício Sirotsky Sobrinho. Tudo devidamente abrilhantado por grandes postes que espalham luzes coloridas com potência de holofotes, planejadas de forma a agradar gremistas e colorados: metade da iluminação emana brilhos azuis, a outra metade, vermelhos.
Os visitantes podem também se exercitar em dois grandes conjuntos de aparelhos de ginástica, colocados em pontos nevrálgicos. Ou sentar-se em confortáveis e anatômicos bancos de madeira, à margem da água, para apreciar outro dos cartões postais da Capital, o pôr do sol do Guaíba.
Só que não teve pôr do sol neste sábado. Não de forma visível. Uma densa neblina encobriu o Guaíba – e, por tabela, empalideceu o entardecer. Nada que desanimasse os casais de namorados, que usufruíram da iluminação elétrica junto às águas, na falta do Rei Sol. Tudo animado ao som de bandas que deram o ar da graça junto ao parque, nesse primeiro fim de semana de reencontro dos porto-alegrenses com seu balneário (ainda não balneável nessa parte da cidade, bem entendido...).
Nem só os porto-alegrenses. O construtor civil Márcio Reis e sua mulher Cíntia Müller vieram da praia de Cidreira "especialmente para conferir o novo visual do Guaíba". Trouxeram junto as filhas Lívia e Letícia, que adoraram as gangorras e escorregadores, outras novidades da orla.
– Um amigo meu trabalha na empresa que fez a iluminação. Luz é segurança pública, agora está comprovado. Onde tu viu multidão assim à noite, nesse lugar? – analisou Reis, por volta das 20h, quando a beira do Guaíba estava cheia de gente.
Falou e disse. Perto dele, outro casal, José Antunes e Liliane Anzolim, passeava com os filhos adolescentes Thiago e Gabriel. Todos deslumbrados com o festival de novas luzes junto ao Guaíba. Eles moram no bairro Belém Novo, a cerca de 25 quilômetros do Centro, e também apareceram para checar as novidades junto ao Gasômetro.
– Primeira vez que passeio à noite junto ao rio, tô até espantado e orgulhoso – comemora Antunes (referindo-se ao Guaíba).
Os dois casais elogiaram sobretudo a presença de policiais e guardas. Há uma central da Guarda Municipal bem junto às águas, próximo à ciclovia. Tiveram pouco trabalho no sábado: alertaram quanto ao excesso de peso no novo mirante (ele só comporta 20 pessoas por vez ou 2,1 toneladas de peso) e atenderam a queixas de pichações. Sim, pichadores já espicharam o olho para a novidade. A diferença é que agora toparão com guardas 24 horas por dia no local. Resta saber se vão arriscar. Se eles desistirem de vandalismo, se os ladrões de fios não saquearem as luminárias, se assaltantes entenderem que não podem vencer a multidão... Porto Alegre repetirá a cada novo fim de semana um reencontro consigo mesma e com um de seus tesouros, o Guaíba.
O que ainda é promessa
Bares e restaurantes – um restaurante panorâmico, quatro bares à beira do Guaíba e duas áreas destinadas a 19 ambulantes ainda não se concretizaram. Tudo está na fase de documentação. Mas os food-trucks já têm permissão para operar.
Banheiros de alvenaria – funcionam só até o entardecer, porque ainda estão sem iluminação. À noite, apenas banheiros químicos estão disponíveis.
Câmeras de vigilância – ainda não estão em operação.
Mais patrulhamento – são seis guardas municipais na patrulha. Pouco, ante a multidão que apareceu no fim de semana. É preciso mais guardas. Mas há também patrulhamento da Brigada Militar. Tudo está mais guarnecido.