Não foi fácil para os professores da ONG Sol Maior controlar a empolgação das 160 crianças e adolescentes presentes na Associação de Creches Beneficentes (Acbergs), na Vila Farrapos, em Porto Alegre, nesta quarta-feira (9). A instituição, que atende crianças e adolescentes de sete a 17 anos de alta vulnerabilidade social, recebeu de braços abertos o grupo gospel americano Oscar Williams & The Band of Life, com direito a apresentações de dança, canto e instrumentos musicais.
A banda, formada por Oscar Williams, Andrea Wallace, Cecelia Brown, Blanche McAllister-Dykes e Detrayshia Smith, chegou no local um pouco tímida. Os cantores arriscavam algumas palavras com a ajuda de um tradutor para cumprimentar alunos e professores, que os aguardavam ansiosamente. Porém, foi só eles passarem pelo portão que a situação mudou completamente. Ao se depararem com a batucada repentina das crianças, os cinco músicos olharam-se, quase que instintivamente, e gritaram juntos:
— Carnaval!
O grupo foi recebido com quatro tambores em uma apresentação inspirada no grupo de axé Olodum, além de gritos e passos de dança afro-brasileira. A banda não disfarçou a alegria: mesmo não falando o mesmo idioma das crianças, começaram a interagir com o pessoal a partir dos estrondos dos batuques. Logo, tiraram os celulares dos bolsos para filmar a performance e fazer selfies — até arriscaram alguns passos com a gurizada. Depois, assistiram a apresentações de dança e de canto das crianças, que ensaiaram por meses para não fazer feio. Por último, a banda deu uma palinha à capela da música Amazing Grace, sendo aplaudidos e ovacionados com euforia.
Se eu posso dar uma boa notícia para essas crianças, é que elas não estão sozinhas.
OSCAR WILLIAMS
Líder do grupo Oscar Williams & The Band of Life
— A música gospel é sobre levar boas notícias para as pessoas. Se eu posso dar uma boa notícia para essas crianças, é que elas não estão sozinhas. Existe um Deus que olha por elas e que quer que elas tenham o melhor futuro possível. Elas serão os futuros presidentes, professores e líderes do mundo — disse Williams, que também enfrentou uma infância difícil nos Estados Unidos.
Essa é a primeira vez da Oscar Williams & The Band of Life no Brasil, que já visitou Salvador, Belo Horizonte e Ouro Preto a partir de uma iniciativa dos Estados Unidos de integrar a cultura americana com a de comunidades de todos os cantos do mundo. No Estado, eles se apresentaram no Salão de Atos da Feevale, em Novo Hamburgo, na segunda (7), e no Theatro São Pedro, na terça (8). Na Capital, o show contou com a participação especial dos alunos da ONG Sol Maior.
— Nossas crianças estão aprendendo a cantar, a dançar e a tocar. Eles chegam tímidos, sem desenvoltura, sem felicidade. Quando saem daqui, parecem outras pessoas. É incrível o poder da arte em transformar a vida das pessoas. Receber uma banda internacional para cantar junto com as nossas crianças é um privilégio tremendo para nós — diz a fundadora da instituição, Maria Teresa Campos.
Formada em 2007, a ONG Sol Maior nasceu pela vontade de oportunizar gratuitamente a formação musical a jovens em comunidades carentes — em 2017, o projeto foi reconhecido pelo Criança Esperança. Atualmente, a instituição atende 410 pessoas com oficinas de dança, canto e música instrumental. Se depender da estudante Florence Antunes, 16 anos, moradora do bairro Restinga e integrante do projeto há quatro anos, a apresentação vai ficar para sempre na memória:
— Quero estudar música para fazer a mesma coisa que a banda: levar a minha arte para outras crianças e mostrar para elas que nem tudo está perdido.