Em vez de levar roupas de ginástica e whey protein na mochila, seis mulheres entram na academia munidas com mamadeiras e fraldas. É que não são para elas os exercícios, mas para seus nenês, no alto de seu meio ano de vida.
Inaugurada em 2014, a Baby Gym - Academia para Bebês conta com cerca de 70 alunos de dois meses a quatro anos no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre. No ano passado, espalhou-se pelo Brasil. Tem atualmente oito franquias, em Rio de Janeiro (RJ), Niterói (RJ), Joinville (SC), João Pessoa (PB) e Bento Gonçalves (RS), além de uma unidade inaugurada em agosto no BarraShoppingSul, na zona sul de Porto Alegre.
Mas em nenhuma delas você vai encontrar crianças com barriga tanquinho fazendo supino. O exercício mais "pesado" presenciado por GaúchaZH na aula de segunda-feira (26) foi uma sequência de levantamentos.
— Um, dois, três... Fica em pé — dizia a professora, orientando as mães a levantarem as crianças pelos bracinhos. — Um, dois, três... Sentou.
O fisioterapeuta Lucas Gomes da Silva, proprietário da Baby Gym, define o estabelecimento como um espaço onde a criança pode brincar e se desenvolver. Os responsáveis — na maioria esmagadora das vezes as mães — acompanham a aula inteira e promovem estímulos visuais, auditivos, de controle do tronco e da cabecinha. São atividades básicas, como balançar um chocalho de um lado até o bebê virar a cabeça para olhar e repetir o movimento do lado oposto, ou então rolar a criança para que fique de bruços.
Guiadas pela educadora física Maiara Martins, as mães ainda correm, brincam de "estátua" com os filhos no colo, além de dar longos beijos e abraços nos pequeninhos.
— Nos bebês de colo, além de cores e texturas, se trabalha muito o chão e o vínculo com a mãe, o toque da mãe — observa Lucas.
À medida que aumenta a idade, crescem também os desafios. Crianças maiores trabalham questões como a coordenação motora em um circuito de peças preenchidas com espuma, que formam escadinhas, pontes e túneis.
O pediatra James Piccoli afirma que as atividades realizadas na aula de segunda-feira são muito simples, e atesta as vantagens de realizar estímulos nas crianças — ele mesmo ensina os pais a realizarem alguns exercícios com seus bebês a partir dos dois meses.
— Tem que estimular a criança desde cedo, melhora a função neuromotora — relata.
Pausas para trocar a fralda ou atenuar alguma crise de choro também fazem parte do "treino". Julia Canal Massotti, de seis meses, voltou às atividades mais animada depois de um intervalo para mamar. Para a mãe, a cirurgiã dentista Mariana Massotti, a academia é uma boa opção porque a Juju não frequenta ainda a escolinha.
— É importante para ela ter contato com outras crianças — comenta.
A engenheira de alimentos Renata Rodrigues Coutinho também afirma que a pequena Joana, de seis meses, adora as amiguinhas e as músicas.
— Ah, e eu canso, né?! — traduz a mãe, imitando voz de criança, enquanto o bebê bocejava.
Renata já levava na Baby Gym a filha mais velha, que hoje tem dois anos e nove meses, e esperou Joana atingir a idade mínima para matriculá-la também, acreditando que a criança se desenvolve mais rápido com esses estímulos. Quando conta aos amigos sobre o lugar, precisa responder a um questionário.
— Ninguém acredita. Eu tenho que ficar explicando como é — relata.
Lucas afirma que o nome curioso foi eleito porque algo como "centro de desenvolvimento infantil" não iria pegar.
— A princípio gera essa dúvida. Como assim, academia para bebês? O bebê vai puxar ferro? Mas é na verdade uma questão de mercado, a gente quis fugir de falar de psicomotricidade ou falar sobre educação precoce em crianças para que os pais não relacionem a alguma doença ou alguma necessidade que as crianças venham a ter.
A ideia do negócio surgiu logo após mudar-se da Venezuela, em março de 2014. A esposa de Lucas, Laura Bego, é venezuelana, e os dois moravam no país vizinho havia 10 anos. Quando começou a escassez de alimentos e os confrontos violentos na rua, decidiram vir à Porto Alegre.
O filho do casal, hoje com quatro anos, chegou a frequentar uma academia para bebês na escolinha venezuelana, mas não acharam algo semelhante na capital gaúcha para inscrevê-lo. Viram ali a oportunidade de empreender.
— Chegamos em março, e em agosto ocorreu a inauguração — recorda Lucas.
Bem como uma academia de musculação, a Baby Gym tem planos mensais, trimestrais e semestrais, com possibilidade de aulas de uma a três vezes por semana. O plano mensal parte de R$ 270.
