Uma das explicações para buracos se multiplicarem por ruas e avenidas de Porto Alegre, impactando no trânsito e na circulação de pedestres, está dentro do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP). Um contrato para manutenção corretiva não renovado, somado a demandas acumuladas desde 2015, faz com que o órgão concentre 8 mil solicitações de serviços relacionados à rede pluvial.
De acordo com o titular da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Surb), Ramiro Rosário, o contrato da empresa que fazia pequenos reparos nas redes pluviais e bocas de lobo não foi renovado por estar sob investigação. Foi feita uma nova licitação, prevendo inovações tecnológicas e melhoria na fiscalização, mas o certame foi impugnado.
– Até junho, o contrato era desempenhado pela Cootravipa (Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre). Foi feito, então, um processo licitatório para uma nova contratação. Entretanto, a própria Cootravipa impugnou o processo licitatório na sua origem – explica Ramiro.
Paralelamente, a solução encontrada pela Surb para resolver o problema foi a contratação emergencial de outra empresa, que começou o trabalho em 10 de agosto.
– Houve um aumento no número de demandas (pela falta de contrato com a empresa terceirizada de junho até agosto). Mas é importante frisar que a cidade não ficou sem execução desse serviço. Mobilizamos equipes próprias para que se pudessem desempenhar situações de emergências e firmamos uma parceria com o Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos) – afirma o secretário.
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O contrato emergencial, de no máximo 180 dias, prevê 30 equipes trabalhando de forma escalonada: hoje, há 18 atuando. De acordo com o Ramiro, para conseguir atender a todas as demandas, a Surb busca otimizar os recursos oferecidos.
– Não me parece razoável, se tu tens uma demanda aberta em uma determinada rua, chegar lá, resolver e depois ir para outra demanda em outro bairro. Tu estás desperdiçando tempo se, naquela primeira rua, havia outros serviços que precisavam ser executados. Pedimos que o departamento se organizasse e atacasse de início os bairros com maiores pontos de alagamentos – relata.
O titular da Surb ressalta que é fundamental o cidadão registrar protocolo na prefeitura pelo telefone 156 – por meio do registro, a população pode acompanhar o processo, e a prefeitura fica com o histórico dos problemas.
Pelas Ruas recebe 119 reclamações de buracos em um mês
As demandas acumuladas dentro do prédio do DEP se refletem no cotidiano de quem circula pela cidade. Em um mês, o aplicativo Pelas Ruas recebeu 119 reclamações por buracos em vias e calçadas, uma média de quatro por dia. Entre as razões, estão problemas na rede pluvial e má conservação do asfalto – este último sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Mobilidade Urbana (Smim). Confira três exemplos:
Pela falta de conserto, moradores se mobilizam
Um buraco na Rua Doutor Raul Moreira, quase esquina com a Rua Curupaiti, no bairro Cristal, causou grandes transtornos para os moradores da região. As raízes de uma árvore entraram no encanamento de esgoto e provocaram estragos: a calçada levantou e fez com que o portão de um prédio ficasse emperrado. Uma empresa desentupidora e um serralheiro precisaram ser contratados por moradores para resolver os problemas.
– O buraco começou a aumentar cada vez mais. Há alguns meses, a prefeitura veio aqui e disse que não tinha o que fazer – conta o estudante Alexandre Raymundo de Jesus, 25 anos.
Em maio, moradores chegaram a ir ao DEP, na seção da Zona Sul, onde foram recebidos pelo engenheiro responsável. Ele teria informado que a empresa terceirizada que executava esse tipo de trabalho havia encerrado seu contrato e nova licitação não havia sido feita.
– Ele falou que qualquer ação da prefeitura para sanar o problema levaria no mínimo dois meses se tivéssemos sorte – afirma o estudante.
A Secretaria de Serviços Urbanos (Surb), por meio da Seção Sul de Conservação do DEP, afirmou que houve rompimento de rede pluvial no local. De acordo com a secretaria, a vistoria foi feita e o início do serviço de reconstrução de rede estava programado para iniciar-se durante a primeira quinzena de setembro. Mas, com a entrada de mais equipes, foi possível antecipar a programação e o conserto começou na quarta-feira (23).
Mobilidade de proprietários e inquilinos prejudicada
Um buraco na Rua Germano Petersen Junior, no bairro Higienópolis, em frente a uma garagem, está causando problemas aos proprietários e inquilinos de um prédio comercial. O problema, que começou pequeno, acabou ganhando grandes proporções.
– Como as pessoas não estavam mais conseguindo entrar na garagem, o condomínio se obrigou a comprar uma chapa de ferro no valor de R$ 1,5 mil para colocar sobre o buraco – afirma a gestora predial Marelis Stasiak, 49 anos.
De acordo com Marelis, o buraco continua crescendo e, agora, está danificando as laterais da chapa.
– O problema é que, daqui a uns dias, não vamos mais conseguir acessar a nossa própria garagem. O meu medo é que um carro caia no buraco – diz.
De acordo com proprietários e inquilinos do edifício, várias ligações foram realizadas ao DEP, mas não teria sido informada a previsão de conserto.
– Outros prédios também enfrentam o mesmo problema, cada um tenta resolver como pode – explica a gestora predial.
A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Surb), por meio da Seção Norte de Conservação do DEP, afirmou que no local houve rompimento de rede pluvial. A pasta explicou que uma vistoria foi realizada e o serviço de reconstrução será iniciado na próxima semana.
Buracos que afetam a mobilidade são recorrentes
Na Rua Guatemala, no bairro Jardim Lindoia, moradores de um prédio não estão mais conseguindo acessar a garagem devido a um grande buraco na calçada.
– Alguns moradores estão tendo que deixar os carros na rua porque não conseguem entrar no condomínio – afirma o subsíndico, Glauco Meurer, 44 anos.
De acordo com ele, o problema já dura três meses. E, não é a primeira vez que isso ocorre.
– Além desse buraco, em uma distância de 20 metros, há um outro buraco menor. A prefeitura veio arrumar no início do ano, mas o problema voltou – explica Meurer.
Moradores relataram que a calçada está "oca", com risco de desabamento. Devido ao tamanho do buraco, eles se preocupam com a segurança dos pedestres que transitam pelo local.
De acordo com a Surb, por meio da Seção Norte de Conservação do DEP, no local há rompimento de rede pluvial e obstrução. A secretaria afirmou que a vistoria foi realizada e a reconstrução de 7 metros de redes, bem como limpeza e desobstrução das mesmas, será iniciada ainda esta semana.