Relatando uma situação sem graça alguma, um bilhete bem-humorado visto através do para-brisa do carro do empresário Luiz Flores fazia um apelo aos agentes de fiscalização da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) na última quarta-feira: depois de fracassar quatro vezes na tentativa de pagar o estacionamento rotativo, ele suplicava para não ser multado.
"Senhor azulzinho, não há máquinas de tickets funcionando nesta região. Já procurei quatro e estão estragadas. Por favor, não multe! Obrigada", dizia o texto.
A atitude extrema do proprietário de um restaurante na Rua Santa Terezinha, nas proximidades do Parque Farroupilha, foi o estopim de uma série de revezes com o sistema de cobrança do estacionamento rotativo no entorno de seu trabalho. Dos quatro parquímetros mais próximos, dois estão fora de funcionamento há pelo menos três meses – um estaria desativado desde novembro. Dentre os três localizados em lados diferentes da mesma quadra, dois exibem um recado: "Em manutenção. Dirija-se ao equipamento mais próximo".
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Na quarta-feira, porém, o equipamento mais próximo, assim como o seguinte, estava fora do ar. A quarta máquina mais perto de onde estava, à esquina da Rua Santa Terezinha com a Venâncio Aires, aceitou as moedas que inseriu. Tinha tudo para ser um alívio, mas o equipamento não imprimiu o ticket.
– Uma outra pessoa resolveu colocar, por conta um bilhete avisando que estava engolindo as moedas. Eu fiz o recado e deixei no para-brisa. Outros também fizeram e ninguém foi multado, mas nem sempre é assim. Quanto a pessoa tem que procurar para pagar o rotativo? Ir até o Centro? – questiona o comerciante.
Flores afirma que, meses atrás, foi repreendido com uma multa por não ter pago a taxa da Área Azul. Ele argumenta que nenhuma das quatro máquinas das proximidades funcionava. O empresário teria recorrido da sanção, mas seu pleito não foi atendido.
Na sexta-feira, a reportagem percorreu o caminho hipotético de quem tenta pagar o rotativo na região perto do restaurante de Flores. Caso falhe na primeira tentativa e percorra a quadra, onde há mais dois equipamentos, e esses equipamentos também estejam fora de operação, há a possibilidade de buscar um quarto parquímetro na Rua José Bonifácio, em frente à Redenção. Até conseguir efetuar o pagamento – caso esse último esteja funcionando –, o motorista terá perdido 13 minutos somente na busca do "mais próximo". Ou seja, investirá quase metade do tempo mínimo de estacionamento, de 30 minutos, tentando cumprir o que está previsto na legislação municipal.
Mais de 10% dos parquímetros estão estragados
O problema encontrado por quem estaciona nas imediações da Redenção não é tão incomum em outros lugares da Capital. Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), 28 dos 209 parquímetros distribuídos entre o Centro e os bairros Azenha, Bom Fim, Menino Deus, Moinhos de Vento, Petrópolis e Tristeza estão fora de operação.
– Isso é ruim, é muito ruim, porque a Área Azul não é uma coisa para a EPTC, é para todos poderem estacionar. As pessoas devem procurar outro (equipamento), mas, quando há vários estragados na mesma região, passamos uma ordem para os agentes não autuarem. Eventualmente, pode acontecer um erro. Mas essa não é a ordem – disse Fabio Berwanger, diretor da Operações da EPTC.
Conforme a EPTC, uma equipe "em perfeita sintonia com a fiscalização" vai às ruas diariamente para averiguar o funcionamento dos equipamentos e comunicar problemas. O principal causador dos estragos, segundo o órgão, é o vandalismo, mas também há casos em que faltam peças para executar o conserto dos equipamentos.
A EPTC confirmou que duas das máquinas do bairro Bom Fim estão fora de operação há meses: o da Rua Santa Terezinha, que teria sido alvo de vandalismo, e o da Rua José Bonifácio, na mesma quadra, cujas peças necessárias ao conserto estariam em falta. Segundo o órgão, não foram feitas autuações na região na quarta-feira, quando os quatro parquímetros deixaram de funcionar.
Desde abril, quando o contrato com a empresa responsável foi encerrado, a responsabilidade pela manutenção dos equipamentos é da EPTC. A empresa aguarda por uma decisão judicial para a implantação de novos equipamentos e a modernização do sistema. Uma disputa entre as primeiras colocadas na licitação, que ocorreu em novembro passado, travou o processo. Não há previsão de início dos trabalhos.