Numa tarde de inverno atípica, com o termômetro marcando 26°C, cerca de 60 pessoas participavam, por volta das 15h deste domingo, da oficina Tricotaço Solidário. O objetivo da atividade, organizada pelo governo do Estado, era estimular doações para a campanha do agasalho. Enquanto ensinavam jovens e adultos a manusear linha e agulha, as 15 artesãs tricotavam casacos, mantas, ponchos e toucas que também seriam doados.
Apesar da trégua no frio, a caixa de coletas, instalada no Parque Marinha do Brasil, estava lotada de roupas, calçados e alimentos não perecíveis, que terão como destino prefeituras e entidades sociais de todo o Estado. A coordenadora do Programa Gaúcho do Artesanato, da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), Marlene Leal Garcia, disse que a expectativa era que cerca de 100 pessoas participassem da oficina até o final do dia e que 80 peças fossem produzidas pelas tricoteiras da Casa do Artesão.
O estudante de medicina Flávio Ferreira, de 23 anos, soube do evento pelo Facebook e convidou a namorada, Danielle Muniz, 35 anos, e mãe, Janete Danilo, 57 anos, que o acompanharam. Durante a semana, assistiu alguns vídeos e treinou em casa. A habilidade do jovem impressionava a professora. Único homem que participava da oficina, Ferreira já conseguia dar pontos sem olhar para linha e agulha, enquanto conversava com a reportagem.
– Alguns não enxergam como uma opção de aprender. Tem que estar disposto e querer aprender. Como pretendo me especializar em cirurgia, acho que pode me ajudar – diz ele, que cursa o sexto semestre na PUC-RS.
Disposição para aprender foi o que não faltou para Oraide Santos, 65 anos, natural de Santana da Boa Vista. Aos nove anos, pediu para que uma tia lhe ensinasse a tricotar, mas ouviu um não como resposta e a justificativa: "você é muito pequena e não vai conseguir". A menina não desistiu. Convenceu o avô a fazer uma agulha com arame e passou a imitar os movimentos da tia, sem que ela percebesse. A mulher se surpreendeu com a destreza da criança e, mais tarde, foi justamente essa tia que comprou o primeiro trabalho de Oraide, um blusão feito com lã de um pelego velho do pai.
No domingo, entre um ponto e outro, que iriam formar um casaco rosa, Oraide atendia pacientemente quem estava lá para aprender. Para os que achavam muito difícil, dizia, para incentivar:
– O segredo é a boa vontade. Tem que querer. Tudo o que a gente quer é possível, tem que acreditar.