Em uma semana, os bairros Vila Farrapos e Anchieta conviveram com duas chuvas fortes. Com baixa capacidade nas casas de bombas que servem a região, houve ruas em que a água sequer escoou nos seis dias que separaram os temporais.
Nenhuma novidade para quem, há anos, convive com os alagamentos na região. Na quinta passada, Carlos Luis Costa Pereira, 54 anos, encontrou a casa inundada depois do turno como vigilante. Foi a segunda vez, em uma semana, que ficou debaixo d'água.
– Não se pode fazer nada, só olhar a água subir, subir... Até ficar ilhado – relata o morador, que já havia colocado pilhas de tijolos sob móveis e eletrodomésticos na tentativa de evitar perdas.
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O auxiliar de cozinha Matheus Linhares da Silva, 22 anos, precisou atravessar a Voluntários da Pátria com água acima do joelho – aperto pelo qual havia passado também na ida ao serviço:
– Eu tinha de trabalhar, não tem outra maneira.
Na terça-feira, moradores e comerciantes olharam para as ruas ainda alagadas de um temporal de cinco dias antes e decidiram agir: juntaram R$ 5.320 e bancaram o reparo de um inversor de frequência, equipamento que dá partida no motor de uma das bombas que estão inoperantes na casa de bombas 6. Também providenciaram o transporte, de caminhão, da peça até o local.
– Nós pagamos duas vezes: os impostos e, agora, para ter algum benefício – diz Ademir Frasson, vice-presidente da Associação Comunitária dos Moradores do Bairro Anchieta.
Segundo a Secretaria de Serviços Urbanos, para a prefeitura resolver o problema, haveria a necessidade de orçamento e cotação de preços em três empresas, pedido de liberação de verba e aprovação, burocracia que acarretaria na demora do conserto.
A medida trouxe um alívio a moradores e empresários – na quarta-feira, restaram apenas o barro e os buracos nas ruas, e empresas aproveitaram para limpar bueiros, novamente por conta própria. Mas está longe de resolver o problema: no dia seguinte, o bairro Anchieta amanheceu alagado novamente. Sandra Dalpiaz, 56 anos, precisou fechar mais uma vez seu restaurante na Avenida Jaime Vignoli, que, inundado, já tinha ficado dois dias sem funcionar.
– Estou apavorada e frustrada. Desde 2015, é a quarta vez que precisamos deixar de trabalhar em função disso – conta.
Edegar Thomaz, que mantém um showroom de móveis para eventos na Rua Angelo Dourado, nem teve tempo de contar os prejuízos antes do novo alagamento. Ele deve perder parte dos móveis de MDF que molharam quando a água invadiu seu ateliê:
– E ainda tem o prejuízo no nosso psicológico. A gente fica com esse trauma. É desanimador ficar dentro d'água do jeito que a gente ficou.
Quarta-feira: Sandra na rua em frente a seu restaurante
Quinta-feira: via havia alagado de novo