Neste sábado, vão passar pelo Sambódromo do Porto Seco as oito escolas de samba da Série Ouro do Carnaval de Porto Alegre. Entre elas, sairá a grande campeã da folia temporã, mas nenhuma das agremiações corre o risco de rebaixamento, conforme normativa da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa) e da União das Entidades Carnavalescas dos Grupos Intermediário e Acesso de Porto Alegre (UECGAPA).
O desfile encerra uma jornada que provocou mudanças no modelo da festa, que deixou de contar com recursos públicos e teve de ser rediscutida e redimensionada.
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O Diário Gaúcho visitou os barracões das oito agremiações para conferir o que cada uma levará para a Passarela Carlos Alberto Barcellos, o Roxo. Se, por um lado, as dificuldades poderão resultar em desfiles mais modestos, as adversidades geraram o compartilhamento de materiais entre as escolas, o reaproveitamento, a criatividade, e o principal: a força das comunidades que não deixam de apostar na história de suas escolas de samba.
Embaixadores homenageia o samba
Com três alegorias e um tripé, a Embaixadores do Ritmo vai prestar uma homenagem ao centenário do samba. Além dos ursos polares, símbolos da escola, o abre-alas trará a Tia Ciata – Hilária Batista de Almeida, uma mãe de santo considerada uma das personalidades importantes no surgimento do samba carioca. A alegoria mostrará os sambistas que passavam pela terreira de Tia Ciata, batiam cabeça e iam tocar.
Já o segundo carro fará referência a Donga, o compositor do primeiro samba gravado, Pelo telefone, e levará uma gafieira para a avenida. A terceira alegoria será o carro do Carnaval, com a cartola, outro símbolo da Embaixadores, além de homenagens à Estácio de Sá, a primeira agremiação a chamar-se escola de samba, ao bloco Deixa Falar, com palhaço e pierrô.
O diferencial
– É um tema muito claro, quem assistir entenderá facilmente. Apostamos num desfile técnico, focado nos quesitos, com uma plástica bonita – observa a presidente Briane Giró.
Bambas faz acontecer num piscar de olhos
Os Bambas da Orgia vão passar na avenida falando sobre o tempo e mostrando que numa fração de segundo tudo pode acontecer. Na abertura do desfile, a águia que simboliza a escola aparecerá num grande ninho no qual 20 ovos vão acomodar crianças. O abre-alas fará referência aos 77 anos da escola, que serão comemorados em maio, relembrando três inesquecíveis carnavais (Festa de Batuque, de 1995, Barão de Catas Altas, de 1998, e Taj-Mahal, de 2007).
A segunda alegoria, o carro de olhos fechados, levará caveiras gigantes, articuladas por componentes da escola, com grande efeito visual. O último carro, resume o enredo: todo amarelo e dourado, mostrará o instante no qual tudo muda, com coreografias e surpresas.
O diferencial
– O conjunto será a diferença, todos empenhados, cada ala. Vai ter muita coisa para ver – promete o carnavalesco Sílvio Oliveira.
IAPI canta Eduardo Natalício
A União da Vila do IAPI prestará uma homenagem a Eduardo Natalício. O abre-alas vai mostrar o folclore nordestino – o homenageado é de Pernambuco – com pinturas de cordel e carrancas nordestinas. O destaque é o galo de 9,60m de altura, que virá na parte de trás da alegoria, articulado, batendo as asas e abrindo o bico. A locomotiva, símbolo da escola, virá na forma de um trem caipira.
O segundo carro simboliza as lembranças que Natalício leva na mala – de uma grande mala sairão coqueiros, jangadas e haverá areia de verdade no chão da alegoria. O terceiro carro representa a gastronomia e contará com personalidades do Senac-RS, como o chef Mamadou Sène. Um grande bobó de camarão estará no topo do carro, que será cercado de temperos na cozinha. O personagem principal irá no último carro, um grande boteco, com familiares de Natalício, que virão de Porto de Galinhas.
O diferencial
– O impacto visual, as cores e estampas – promete o carnavalesco Sérgio Guerra.
Vai ter pinga no Carnaval da Restinga
A Estado Maior da Restinga vai contar a história da cachaça no Porto Seco, e mostrar que a grande cachaça da Tricolor da Zona Sul é o Carnaval.
– O Carnaval é uma cachaça do bem, que traz informação, alegria e motivação – defende o carnavalesco Reinaldo Oliver, que foi campeão com a Estado Maior da Restinga em 2012, no enredo sobre o vinho.
O abre-alas, que mede 25,5 metros de comprimento, um dos maiores que a escola já levou para a avenida, contará com o Cisne, o símbolo da Restinga, com a carranca de uma embarcação negreira. A alegoria terá uma ala de passo marcado envolvendo 48 pessoas.
Já o segundo carro fará referência à lenda do Anhanguera (o bandeirante jogou pinga num rio e provocou fogo), com ocas feitas de materiais locais, como taquara e capim. O terceiro carro, que promete maior impacto visual, chama-se "Um gole para o santo", com exus e outras influências das religiões de matriz africana.
O diferencial
– É a força da comunidade! – sentencia o carnavalesco.
Imperadores traz as cores de Frida Kahlo
A Imperadores do Samba vai mostrar no Porto Seco a história da pintora mexicana Frida Kahlo. O abre-alas lembra a antiga civilização asteca, a ancestralidade de Frida.
O segundo carro faz referência à revolução mexicana, o governo ditatorial, uma parte mais sombria, mas de coragem da época. O terceiro carro, o mais colorido do desfile, remonta a casa de Frida, seu atelier, com tintas e pincéis.
No último carro, os leões, símbolos da agremiação, demonstram o amor pela Imperadores, enquanto trazem a homenageada como diva da escola, e seu amor pelo México. Além dos quatro carros, a escola terá também um tripé.
O diferencial
– É a união da escola, com voluntários da comunidade. Estamos fazendo o Carnaval com o dinheiro de quadra e muito material reciclado, pelo menos 70% reaproveitado – garante Luciano Maia, integrante da comissão de Carnaval.
Imperatriz exalta o negro na cultura do RS
A proposta da Imperatriz Dona Leopoldina, atual campeã do Carnaval de Porto Alegre, é montar o seu desfile a partir dos versos do samba-enredo. O tema do desfile é a contribuição do negro na formação do Rio Grande do Sul em todos os segmentos: influências no vestuário, na culinária, na música e na política. Mas o carnavalesco Sandro Rauly avisa que não haverá ênfase no sofrimento do povo negro, apenas o legado cultural.
A agremiação contará com quatro alegorias. O abre-alas representa a partida do navio negreiro. O segundo carro mostrará a herança cultural, a influência na música, com tambores e o batuque. A terceira alegoria faz referência ao folclore, com a lenda do Negrinho do Pastoreio, os festejos dos santos católicos e a última alegoria, que terá um grupo de crianças fazendo a coroa da Imperatriz (símbolo da escola) girar, conforme diz a letra do samba, representa o amor.
O diferencial
– O canto da comunidade, o enredo alegre e colorido – defende Sandro Rauly.
Acadêmicos faz a festa com o Velho Guerreiro
Segunda colocada no Carnaval de 2016 – alcançou a mesma pontuação da campeã, Imperatriz Dona Leopoldina, mas perdeu nos critérios de desempate – a Acadêmicos de Gravataí promete fazer uma saudação a Abelardo Barbosa, o Chacrinha, que completaria cem anos em 2017.
Serão três alegorias e um tripé.O abre-alas trará referências da Tropicália, além da Onça Negra, símbolo da escola. Já o segundo carro, lembrará as origens do Velho Guerreiro, no Nordeste – o apresentador era Pernambucano – e a terceira alegoria levará um Cassino do Chacrinha para a avenida. Representando o personagem homenageado, virá Fábio Verçoza, que foi Rei Momo da Capital até 2015, e mais de três décadas de envolvimento com a folia.
O público verá na avenida um Carnaval colorido, com a mistura de materiais ricos e recicláveis, como a garrafa pet, o papelão e os retalhos.
O diferencial
– Queremos que o desfile transmita uma mensagem, transmita valores. Trabalhamos com muito voluntariado da comunidade – explica Wagner Silveira, membro da comissão de Carnaval.
Procissão de fé no desfile da Império
A Império da Zona Norte fechará os desfiles da Série Ouro, promovendo uma grande procissão de fé no Sambódromo. No abre-alas, estarão representados a Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, o Menino Jesus e outras imagens em referência à religião católica.
Já o segundo carro trará a religiosidade afro, com a mãe das águas, Iemanjá e uma grande caravela portuguesa. A última alegoria, que representa a procissão imperiana virão os leões símbolo da agremiação, a devoção popular a São Jorge, além de grandes candelabros.
O diferencial
– Muitas escolas que fecharam os desfiles foram campeãs. Apostamos nas fantasias, nas alegorias e em mestre-sala e porta-bandeira, quesitos em que a Império da Zona Norte sempre foi forte – defende o presidente da escola João Carlos Martins, o Gago.