Em domingo ensolarado e de temperatura amena em Porto Alegre, grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Banda Loka Liberal lideraram manifestação no Parque Moinhos de Vento, o Parcão, a favor da operação Lava-Jato e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal alvo dos reclames.
Diferentemente de mobilizações passadas, a adesão foi baixa, fenômeno que se repetiu em outras capitais do Brasil. Coordenadora do MBL no Rio Grande do Sul, Paula Cassol disse que a organização não estimou o público. O 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM), responsável pela região, e a EPTC também não fizeram contagem.
O público modesto foi alvo de comentários de lideranças que tomaram o microfone para se manifestar.
– Pouco importa. Cada pessoa sabe por que está aqui e não vamos desistir. (...) A gente não pode se acomodar. Peço encarecidamente que vocês não nos abandonem nessa luta – disse Paula.
Leia mais:
Em protesto esvaziado, grupos poupam Temer e rechaçam lista fechada
Manifestantes ocupam a Avenida Beira-Mar em apoio à Operação Lava-Jato
Manifestação em Brasília atrai apenas 630 pessoas neste domingo
Um dos principais líderes dos movimentos liberais em Porto Alegre, o deputado estadual Marcel van Hattem (PP) cita diversos fatores para a redução, entre eles a inexistência de um "inimigo" definido, como na época das manifestações de massa a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
– Esses movimentos têm um tempo de maturação. Vai virando uma onda até se tornar incontrolável. Eu diria que estamos em um período de ressaca na política. Lamento um pouco, acho que deveria ter mais gente. Mas, ainda assim, fico contente porque em novembro de 2014, quando começamos, reuníamos 200 ou 300 pessoas – analisou o parlamentar, que estimou a presença de 1 mil a 1,5 mil manifestantes.
Aglomerados em torno de um caminhão de som, os presentes apresentaram diversas pautas, sendo o direito ao porte de arma uma das mais recorrentes.
– O estatuto do desarmamento é uma ferramenta de dominação que enfraqueceu homens e mulheres de bem. Dizer que nós, cidadãos de bem, vamos sair atirando por aí é falácia – afirmou a vereadora Comandante Nádia (PMDB).
Outra pauta citada com frequência foi a oposição ao voto em lista fechada, articulação que está sendo feita em Brasília como parte de uma reforma política. A interpretação é de que esse mecanismo servirá para proteger e reeleger políticos envolvidos em caso de corrupção.
– O partido que apoiar voto em lista vai ser implodido em 2018 – discursou Iria Cabrera, coordenadora local do Vem Pra Rua.
O fim do foro privilegiado foi defendido, e a hipótese de ser costurada uma anistia ao caixa dois recebeu inúmeras críticas.
Temer poupado e bonecos de Lula
Como de costume, o ato reuniu centenas de pessoas que trajaram verde e amarelo e havia significativa presença de manifestantes na faixa etária dos 50 anos. Houve farta distribuição de bonecos infláveis do ex-presidente Lula com roupas de presidiário.
O PMDB e o presidente Michel Temer não estiveram em evidência, passando ao largo das críticas. No início dos discursos, foi entoado o canto "Eu não votei no Temer", resposta a questionamentos sobre a ausência dele na lista de alvos do protesto.
Um grupo pequeno, que se manteve na esquina das avenidas Goethe e Mostardeiro, alguns metros afastado do núcleo da manifestação, pedia a "intervenção militar".
No caminhão, os movimentos abriram espaço para políticos com mandato. Além de Comandante Nádia e Marcel van Hattem (PP), que defendeu mudanças com "democracia", discursaram o vereador Felipe Camozzato (Novo) e o secretário municipal de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário (PSDB). Também vereador, Valter Nagelstein (PMDB) compareceu, foi mencionado e distribuiu cumprimentos, mas não chegou a se pronunciar. Entre o público, havia diversas camisas e faixas do Novo, sigla fundada recentemente, de orientação liberal. Um cartaz requeria a eleição do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) à Presidência em 2018. O ato foi encerrado às 17h20min.