Menos de três semanas depois de assumir a presidência da Carris, Luis Fernando Ferreira renunciou, em decisão que pegou a atual gestão de surpresa no final de semana. Ele havia assumido a função no governo de Nelson Marchezan Jr. no dia 31 de janeiro.
O secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, Elizandro Sabino, confirmou o pedido de demissão. Segundo Sabino, o presidente da Carris apresentou um diagnóstico sobre a companhia, colocou-se à disposição para contribuir com a prefeitura, mas disse que tem outros projetos.
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– Acredito que ou foi oportunizado a ele um convite que o tenha demovido da intenção de continuar à frente da Carris, ou foi uma decisão de foro íntimo, pessoal – diz.
A prefeitura informou que Ferreira assumirá a presidência do Conselho da Carris e vai "acompanhar os processos de seleção de novos diretores e coordenadores vinculados à administração municipal, inclusive a diretoria da empresa". No ato de posse, Ferreira, que é formado em Economia pela UFRGS, com MBA em Varejo pela USP e mestrado no Estados Unidos, tinha afirmado que seu objetivo principal era reverter os resultados atuais da empresa.
O motivo da renúncia não ficou claro para os funcionários da Carris, que mal conheceram Ferreira – ele nem chegou a ser apresentado a lideranças sindicais. O diretor-técnico da Carris, Flávio Barbosa, que assumiu interinamente a presidência da companhia, garante que não houve conflitos dentro da empresa, que poderiam ter levado à renúncia do presidente. Mas diz que não soube da decisão previamente, nem dos motivos:
– Quando a gente tomou ciência ele havia apresentado a carta de renúncia para o prefeito.
Zero Hora pediu o contato de Ferreira para a Carris, mas a assessoria informou que a empresa não dispõe. A reportagem solicitou à assessoria de imprensa do prefeito uma entrevista com Ferreira, que foi negada, com a justificativa que é o secretário Elizandro Sabino quem está respondendo sobre isso. Confira trechos da entrevista de Sabino a ZH:
Vinte dias depois de assumir, Ferreira deixou o cargo. O que houve?
Foi uma decisão de foro íntimo, pessoal. Nós questionamos a respeito da disposição de continuar colaborando com o governo, e ele se colocou à disposição de assumir esse novo desafio que será como presidente do Conselho da Carris.
Segundo a prefeitura, ele disse que tem outros projetos. Mas não tinha eles antes de assumir o cargo?
Já me foi questionado isso e também se não há o temor de que outra pessoa que assumir tenha a mesma atitude. Mas a resposta que eu tenho é que as pessoas tomam decisões na vida, nós não temos como prever. Quando o governo decidiu pelo nome dele, e quando ele decidiu assumir o desafio, por certo, de ambos os lados, havia convicção. Ele é um profissional respeitado, um nome que tem uma especialização muito forte na iniciativa privada. Acredito que ou foi oportunizado a ele um convite que o tenha demovido a intenção de continuar à frente da Carris, ou foi uma decisão de foro íntimo pessoal.
Ele não disse o que ele fará agora?
Para mim, não. Não sei se não conversou com o prefeito nesse sentido.
Houve alguma desavença, algum desentendimento?
Não há nenhuma desavença, nenhum desentendimento. O Fernando é uma pessoa extremamente tranquila. Não consigo ver a possibilidade de ele perder a paciência. Eu deixei ele se ambientar nas últimas semanas, estabelecer diagnóstico, estudar a estrutura da empresa, e ele estava fazendo isso. Não faltou suporte, e ele vinha sinalizando algumas coisas que ia implantar, nós estávamos concordando. Porque a Carris necessita hoje, mais do que nunca, ter um choque de gestão para que possa reagir financeiramente.
A prefeitura está buscando um novo nome para a pasta?
A partir do momento da informação da renúncia, estamos trabalhando em cima disso.
Ferreira renuncia em meio à discussão de passagem.
Não era esperado, mas acredito que não tenha nenhuma interferência nesse processo.
O que faz um presidente do Conselho da Carris?
O presidente trabalha em todo o aspecto que diz respeito à área administrativa. Eu não tenho aqui as funções que são delegadas ao presidente do conselho, mas sei que, por exemplo, para fazer uma alteração estrutural na empresa, como a nomeação de um diretor, passa pela deliberação do conselho. E esse conselho só se reúne através da convocação do presidente.
A equipe da Carris não deveria ter o telefone dele, ainda mais que é do conselho da empresa?
Acho que, como a questão é momentânea, de transição, talvez tenha sido uma solicitação dele. Não tenho essa informação para te passar.
A assessoria da prefeitura negou repassar o contato ou intermediar uma entrevista com Ferreira, alegando a ZH que só o senhor estava respondendo sobre isso. Por que a gente não pode entrevistá-lo?
Imagino, pelo perfil discreto, que talvez tenha sido um pedido dele.