A julgar pelo jeitão despreocupado com que passeia de gravata amarela pela Coronel Fernando Machado, o Alemão é o dono da rua. Ele vigia a entrada e a saída da escolinha, faz novos amigos na frente do supermercado, visita os compadres brigadianos, fila comida grátis na padaria e no açougue. E volta e meia dá uma paradinha para algum humano coçar sua barriga.
– Todo mundo conhece o Alemão. O cachorro é uma personalidade – destaca a fonoaudióloga Fabíola Damin, 42 anos.
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Tratado como cão comunitário no Centro Histórico, o vira-lata com traços de pastor alemão passa o dia perambulando pelo bairro. Mas às 19h, com certa pontualidade, volta espontaneamente para sua casinha de plástico azul. Já faz dois anos que dorme em uma pet shop, que antes ficava na Fernando Machado e neste ano se mudou para a rua paralela, a Demétrio Ribeiro.
Andressa D'Fava, 22 anos, gerente da Showkan Fashion Pet, conta que o Alemão apareceu muito cansado no bairro, já adulto, e ninguém sabia quem era o dono.
– Ele estava com as patinhas em carne viva, achamos que caminhou muito até aqui. Ficou três dias deitado – lembra.
Depois de recolhido e tratado, o Alemão ganhou um lar, mas fugiu. Ainda tentaram levá-lo para um sítio no Lami com outros animais tirados da rua, mas não teve jeito de o cachorro se acostumar com o lugar.
– A gente viu que ele não queria, por isso não doou mais. É o cão do bairro. Ele gostar dessa vida livre, e todo mundo gosta de dar carinho para ele – diz Andressa.
Quando o Alemão foi picado por formigas e precisou passar uns dias preso na pet shop para tratamento, recebeu várias visitas. A preocupação com o cão é tanta que o novo endereço da pet foi escolhido justamente pela proximidade da rua com a qual o cachorro está acostumado:
– Viemos para a loja mais perto, uma rua abaixo, por medo de ele querer voltar para a Fernando Machado e se perder.
A fama do cachorro aumentou depois de uma polêmica no Facebook. Em junho, um dos integrantes do grupo Vizinhos do Centro Histórico publicou uma postagem acusando o cão de atacar sua cadela "sem motivos maiores" e pedindo que ele fosse preso com focinheira. Não demorou muito para uma enxurrada de comentários defendendo o cachorro – e o debate acabou com mais de 500 comentários. Para Andressa, "todo mundo sabe que ele não é agressivo".
Caminhando um pouco pelo bairro, não faltam mesmo elogios ao animal. João Krever, 41 anos, encarregado de segurança, define o bichano como "dócil" e "educado".
– Para mim, ele é o cachorro mais feliz, porque tem toda a liberdade e recebe o carinho de todos – completa a assistente social Rafaela Damin, 47 anos.