Se os porto-alegrenses já podem beber a água da torneira sem o cheiro e o sabor de mofo que afetaram o abastecimento entre maio e agosto, quem passa, trabalha ou mora na zona norte da Capital ainda tem de conviver com o odor na atmosfera. Mais de duas semanas depois de a Justiça determinar urgência na retirada dos resíduos armazenados na Cettraliq, a empresa ainda não tomou providências para remover os mais de 2 mil metros cúbicos de efluentes líquidos que ocupam os tanques e lagoas da companhia, que teve as atividades suspensas em agosto.
Na semana passada, o Poder Judiciário deu um novo prazo, de cinco dias, para que a central de tratamento de efluentes líquidos apresente um plano de remoção dos resíduos lá armazenados, responsáveis pelo mau cheiro. O período se encerra nesta quarta-feira – o que não significa que os resíduos tenham de ser retirados até hoje. Segundo o Tribunal de Justiça, representantes da empresa protocolaram uma documentação que ainda não chegou ao juiz. Procurada por ZH, a Cettraliq não foi localizada para falar sobre o assunto até a publicação da reportagem.
O prazo estipulado em 9 de setembro, de 10 dias para a retirada e destinação adequada dos rejeitos, não foi cumprido, segundo a Justiça, porque houve dificuldades em intimar o casal de proprietários da Cettraliq, Betty e Wolf Gruenberg. A determinação partiu de uma ação civil pública ajuizada por Ministério Público e prefeitura que solicita, além da remoção dos resíduos, um ressarcimento de mais de R$ 4 milhões pelos gastos extras com o tratamento da água no período em que ocorreram as alterações.
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Em 22 de setembro, o juiz Eugênio Couto Terra modificou sua decisão após a empresa alegar "impossibilidade temporal de cumprimento, pela inexistência de centrais de tratamento licenciadas pela Fepam com capacidade para receber os efluentes". Ele suspendeu a multa de R$ 200 mil por dia de descumprimento e determinou o prazo de cinco dias para que a companhia apresente um plano de remoção e destinação dos efluentes para "estabelecimento, sediado no Rio Grande do Sul ou fora dele, com licenciamento ambiental compatível com o tratamento de substâncias com as características dos efluentes a serem removidos".
Além da Cettraliq, outras três empresas são licenciadas pelo órgão estadual para tratar resíduos líquidos de outras companhias. Com a suspensão temporária da multa, ainda não foi definido o que será feito em caso de descumprimento do período estabelecido.
Principal suspeita de ser a responsável pelas alterações no cheiro e no sabor da água em Porto Alegre, a central de tratamento de efluentes está fora de atividade desde agosto, quando teve as atividades suspensas pela Fepam por emissão de odores acima no estabelecido na licença de operação. Posteriormente, a Cettraliq foi interditada preventivamente pela prefeitura por oferecer risco "á população e ao ambiente" e, em setembro, o órgão ambiental estadual disse que a empresa não voltará a abrir na zona norte de Porto Alegre.