Esta quarta-feira foi marcada por um novo capítulo da novela sobre o cheiro e o sabor da água em Porto Alegre: a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) suspendeu as atividades da empresa Cettraliq, que está sendo investigada por possível relação com as alterações no líquido. A empresa, que tinha autorização para lançar o resultado do processamento de resíduos industriais na casa de bombas da Trensurb, está proibida de despejar efluentes no Guaíba por tempo indeterminado.
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Motivo da autuação, segundo a Fepam, é a emissão, pela empresa, de odores acima do limite estabelecido pela licença ambiental.
2010
- Quando ainda operava sob o nome de Cettrel, a Cettraliq recebeu o auto de infração 779/2010 por "ultrapassagem dos padrões de emissão estabelecidos para o lançamento de efluentes líquidos no corpo receptor". O documento não informa quais substâncias foram encontradas em quantidade acima do permitido.
2013
- Auto de infração 789/2013, emitido com base em uma fiscalização, aponta "contaminação da rede pluvial à jusante (no sentido da correnteza) do ponto de lançamento dos efluentes industriais tratados da empresa por cromo, cobre, manganês e zinco, sendo tais contaminantes característicos do processo desenvolvido pelo empreendimento e lançamento de efluente industrial fora dos padrões estabelecidos na Licença de Operação em vigor (...)".
2016
JUNHO DE 2016
-Interior da empresa Cettraliq é um dos pontos em que a Fepam coleta amostras de água considerados suspeitos. Conforme o órgão, a empresa, entrou na rota dos exames em razão de sua localização, na região da Capital onde o odor sentido na água é mais forte.
7 DE JULHO DE 2016
-Ministério Público (MP) abre inquérito para acompanhar ações do poder público sobre alterações na água de Porto Alegre.
13 DE JULHO DE 2016
- Fepam anuncia que fará monitoramento semanal na água do Guaíba. Além do rio e de pontos de bombeamento ou tratamento de água, a Cettraliq foi incluída na lista de locais investigados pela prefeitura. A empresa tinha autorização da Fepam para tratar efluentes líquidos e liberar os resíduos, depois de devidamente tratados, no Guaíba.
-Cettraliq afirma, em nota, que tem alvará de localização, emitido pela prefeitura em 2007, quando se chamava Cettrel. A Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic) busca o documento enviado pela advogada da Cettraliq em seu sistema, mas nenhum dos seis alvarás existentes para o endereço informado envolvia a empresa de tratamento de efluentes, com nenhuma das duas razões sociais.
-Por ser a única empresa privada de tratamento de resíduos localizada no bairro Navegantes a fazer esse tipo de serviço na Capital, a secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini, declara que a atuação da companhia é considerada necessária pelo órgão, "sob pena de criar um problema maior"
-Especialistas questionam a declaração, como Paulo Carneiro, pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), para quem "não existe meio termo: é preciso cumprir as normas ambientais". Fepam pede para que a Cettraliq utilize um filtro de ozônio no fim do processo para eliminar possíveis bactérias que possam estar chegando à rede pluvial.
-Cettraliq afirma não ver relação entre o forte odor sentido nas proximidades de onde está instalada e os efluentes que são tratados no local.
15 DE JULHO DE 2016
-Prefeitura diz que Cettraliq não passou por Estudo de Viabilidade Urbanística (EVU), não tem Habite-se e também não possui alvará para atuar na cidade. O Habite-se do prédio onde está localizada a empresa, que trata efluentes de 1,5 mil clientes e despeja o resultado do processo na rede pluvial, estava em nome de uma indústria têxtil.
-De acordo com a Secretaria Municipal de Urbanismo, a empresa nunca havia sido fiscalizada porque a equipe que realiza esse trabalho é pequena e atua, principalmente, a partir de denúncias. Segundo o secretário-adjunto Heraldo Arnt, a Cettraliq ainda tinha chance de se regularizar, mas teria de passar pelo crivo de um corpo técnico para conseguir o EVU.
21 DE JULHO DE 2016
-A secretária Ana Pellini contesta a afirmação da prefeitura de que a Cettraliq, empresa que trata os efluentes líquidos de 1,5 mil empresas, seria "clandestina". Nos arquivos da Fepam consta um documento emitido em 2002 pela Secretaria Municipal do Planejamento, atestando que a empresa Pró-Ambiente Análises Químicas e Toxicológicas (nome original da Cettraliq) está apta a operar com tratamento de efluentes.
-Ana reconhece que a Cettraliq terá de sair do bairro Navegantes, mas diz que é preciso tempo para se instalar em outra área, fora de Porto Alegre, ou para as empresas que contratam seus serviços buscarem uma alternativa.
8 DE AGOSTO DE 2016
-Cettraliq envia à imprensa o resultado de testes encomendados por ela mesma a um laboratório de Santa Catarina. O relatório indica que o número de bactérias actinomicetos (que podem estar provocando o cheiro e o gosto na água) encontradas na estação de tratamento da empresa está dentro dos padrões exigidos pela legislação ambiental. Conforme outro teste, realizado por laboratório de São Paulo, os compostos geosmina e metilisoborneol, produzidos por esse tipo de bactéria, não foram detectados.
9 DE AGOSTO DE 2016
-MP começa a trabalhar com a hipótese de que o problema na água de Porto Alegre tem origem industrial. O órgão, que abriu inquérito para investigar paralelamente a situação, acredita que as causas têm relação com efluentes industriais que chegam à casa de bombas da Trensurb.
-A promotora do Meio Ambiente, Ana Marchezan, decreta o sigilo do inquérito para evitar que "eventuais agentes poluidores" se previnam das ações do MP e questiona se o problema seria causado pelo esgoto doméstico.
-A promotora aguarda por análises técnicas realizadas na casa de bombas e na empresa Cettraliq, na zona norte da Capital.