Modificar o cotidiano de carroceiros e carrinheiros é o objetivo principal do projeto “Todos Somos Porto Alegre”. A iniciativa foi criada pela prefeitura de Porto Alegre, já que a partir de setembro deste ano, não será mais permitida a circulação dos veículos de tração animal (VTA), as carroças, e veículos de tração humana (VTH), os chamados carrinhos, exceto na área rural e na Região das Ilhas.
A fiscalização e apreensão dos veículos é feita pela Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC). O órgão vem realizando duas blitze por mês. Preparar estes trabalhadores para acessarem novas alternativas de trabalho e renda é o que pretende o “Todos Somos Porto Alegre”.
“O programa não visa apenas retirar essas pessoas das ruas, mas sim dar oportunidade para quem trabalha com essa atividade. A ideia é que elas possam ter renda em outras atividades. Nós fizemos um programa de cunho emancipatório. A gente promove ações com equipes indo até esses locais promovendo ações e dando oportunidades para elas se qualificarem”, explica a coordenadora, Denise Costa.
O programa, que foi intensificado no final de 2013, cadastrou 1.035 pessoas, sendo 382 carroceiros, 524 carrinheiros e 399 famílias que trabalham com triagem em casa. Até agora, 619 pessoas, incluindo familiares de carroceiros e carrinheiros, já concluíram cursos profissionalizantes de limpeza, recepção, atendimento, manicure, camareira, informática, gastronomia ou construção civil — alguns, com alfabetização.
Quem quer continuar no ramo, de acordo com a prefeitura, é encaminhado a unidades de reciclagem que recebem resíduos do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Atualmente, 127 pessoas participam de cursos profissionais e alfabetização, e outras 383 estão em atendimento pelas equipes na fase de migração para outras atividades.
No entanto, muitas pessoas ainda preferem permanecer nas ruas, como é o caso do catador de lixo Gilnei Agelin.
“Eu acho isso errado. Para nós é melhor no carrinho, na rua. Nos galpões não é bom. É bom cada um por si. Vários carrinheiros não querem também”, disse ele.
O grande problema, segundo os catadores de lixo, é que nas ruas eles conseguem ganhar mais do que nos centros de reciclagem. Além disso, nas cooperativas o trabalho é mais pesado, na opinião do catador Joel Rodrigues.
“Trabalho uns cinco anos já e não pretendo ir para os centros de reciclagem. A gente ganha mais dinheiro na rua e lá temos que trabalhar mais”, avaliou.
O projeto “Todos Somos Porto Alegre” indenizou até agora 276 carroceiros de 382 cadastrados. Eles trocaram os animais e equipamentos pelo valor de até R$ 1,5 mil. Dos 524 condutores de VTH, apenas 14 foram indenizados até então.
De acordo com a prefeitura, esse número pode ser maior, considerando que alguns trabalhadores realizaram a venda direta dos veículos e que houve cavalos recolhidos por maus-tratos.
Na casa da recicladora Janaína Prestes há opiniões opostas. Ela trabalha há 3 anos em uma unidade, mas o marido ainda permanece nas ruas. Para ela, a vida melhorou muito dentro dos centros de reciclagem.
“Eu ganho mais aqui. Tenho três filhos e sustendo eles. O meu marido ainda está na rua, catando lixo, mas eu estou tentando trazer ele para cá. Sou muito feliz aqui e pretendo ficar por muito tempo”, destacou.
O projeto “Todos Somos Porto Alegre” vai manter as atividades até o final do ano. Na tarde passada (24) houve audiência entre prefeitura, catadores e Defensoria Pública. A prefeitura analisa a possibilidade de elaborar um projeto de lei, a pedido do Fórum de Catadores de Porto Alegre, para que esse programa se torne uma política permanente na cidade.