Em meio à violência e ao tráfico de drogas do Bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, dezenas de pessoas trabalham Centro de Triagem Vila Pinto - um dos 17 centros de reciclagem de lixo que existem na Capital. E é do lixo que a coordenadora do local, Sirlei Batista de Souza, sobrevive há 16 anos.
“Eu não fazia nada. Era uma pessoa que não sabia fazer nada. Aí meu marido me abandonou com os três filhos. Vim, pedi emprego e comecei. Minha vida mudou completamente. Eu voltei a estudar. Meus filhos têm oportunidades, um deles já viajou para outro lado do mundo, sendo eu trabalhando aqui. O centro de triagem é um obstáculo antes de ir par ao mercado de trabalho. E se você trabalhar num galpão desses se torna uma pessoa melhor. Você recicla a vida das pessoas. É um trabalho especial”, conta ela.
As 17 unidades de reciclagem em Porto Alegre conseguem vender até R$ 500 mil por mês. Como cada uma delas possui entre 30 e 40 trabalhadores, o salário de cada reciclador gira em torno de R$ 600 até R$ 1,3 mil por mês.
É o que ganha a recicladora Eloá Teresinha da Silva. Na unidade localizada na Rua Paraíba, no Bairro Floresta, também trabalham o marido e um dos filhos dela. A família, que antes recolhia lixo com carrinhos pelas ruas da cidade, agora tem horário, renda fixa e melhores condições de trabalho.
“Eu puxava carrinho. Era por conta, e a gente caminhava na cidade, procurando lixo e reciclando no carrinho mesmo. Pegava tudo que era tempo. Sol, chuva. Hoje, temos um teto. Pode estar chovendo e nós estamos abrigados. A renda melhorou muito na comparação com antes”, explica ela.
O reciclador Tadeu Silveira também deixou de circular pelas ruas com o carrinho em busca de lixo. Ele conta que antes tinha que acordar de madrugada e ainda competir com os caminhões de lixo e com outros catadores. Hoje, nas unidades de reciclagem, a vida mudou completamente.
“Sempre trabalhei de papeleiro na rua. Mexia no lixo, em tudo. Na rua a gente competia com caminhões de lixo e com outros catadores. Tinha horário. Tinha que levantar super cedo”, ressalta.
As histórias dos recicladores são parecidas. Pessoas sem oportunidades, sem assistência. Muitas delas até sem documentos de identificação, como conta a coordenadora do programa Todos Somos Porto Alegre, Denise Costa.
“Acessar essas pessoas aos serviços básicos da cidade. Muitos não tinham documentos. Outros não sabiam que tinha direito a aposentadoria. Eu sinto e os números mostram que cada vez mais essas pessoas estão aderindo ao programa para dar uma virada de vida”, destaca.
Pessoas como o reciclador Vanderlei Gregório. Com o dinheiro arrecadado do lixo, criou os filhos. Antes circulava por Porto Alegre puxando carrinho. Hoje, tem horário fixo e uma renda garantida todo mês.
“Era um sofrimento antes. Saía com chuva, vento. Voltava tarde. Mas, graças a deus criei meus filhos. Estão todos grandes. Hoje, graças a deus, meu sustento e da minha família vem do lixo. O que eu digo para as pessoas é que elas separem bem o lixo. A gente depende de vocês”, ressaltou.
O especial sobre a reciclagem segue amanhã, abordando o projeto que pretende retirar todas as carroças das ruas de Porto Alegre até setembro, mas que enfrenta a resistência de muitos carroceiros.