
Se muita gente reclama do cheiro e do gosto ruins na água do Porto Alegre, há quem acredite estar sentindo também nos olhos e na pele as consequências das mudanças no líquido que sai da torneira e do chuveiro no último mês. Para tentar amenizar a situação, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) passou a usar carvão ativado e triplicar o período de inserção de dióxido de cloro na água – agora, a substância entra no tratamento 24 horas por dia.
A empresária Gabriela Casartelli a princípio achou que o problema fosse com ela: ao abrir o chuveiro, a ardência nos olhos era quase imediata. Moradora do bairro Petrópolis, onde o cheiro e o sabor da água também não andam dos melhores, sequer comentou com o marido o problema persistente.
– Achei que estava com uma alergia porque tenho os olhos megassensíveis. O cheiro é horrível, e o gosto, também, mas a ardência é o pior – diz.
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Para o empresário Guilherme Soster, a hora do banho é que tem sido o termômetro sobre a qualidade da água. Isso porque a água que o morador do bairro Passo D'Areia consome já não é da torneira há tempos.
– Começou há mais ou menos um mês. Eu choro no banho. Muita ardência nos olhos – conta.
O jornalista Rafael Borges, morador do bairro Menino Deus, marcou horário no dermatologista para descobrir se há relação na coceira que sente pelo corpo ao sair do chuveiro nas últimas semanas:
– Sou uma pessoa alérgica, mas nunca tive algo assim. Ou foi um bicho, ou é a água. Como eu não ando em mato, estou achando que é a água.
Especialistas consideram difícil traçar uma relação direta entre as mudanças no tratamento da água e as reações alérgicas relatadas por usuários, mas admitem que existe a possibilidade de que pessoas mais sensíveis estejam sendo afetadas. De acordo com a oftalmologista Juliana Oliveira de Carvalho, o aumento da exposição ao dióxido de cloro, por exemplo, pode ser a causa de certos tipos de conjuntivite.
– Tem pessoas que são alérgicas a coisas que a maioria não é. Quem toma um banho quente, com o vapor dessa água, pode ser afetada, como tem pessoas que reagem, por exemplo, à água da piscina do clube. Não é porque uma minoria desenvolve que não há relação – afirma.
O dermatologista Sérgio Célia, do Hospital São Lucas da PUCRS, acha “improvável” que os problemas de pele tenham relação com a exposição ao dióxido de cloro. Ele explica que reações alérgicas podem ser causadas por inúmeros fatores, que, nesse caso, também podem nem ser conhecidos, uma vez que ainda não se sabe o que está causando alterações na água.
No caso de hipersensibilidade, tanto nos olhos quanto na pele, o ideal é buscar ajuda médica. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS, Clarissa Prati também acredita que pequenas mudanças na rotina, como banho mais curtos e menos quentes, podem amenizar reações que, eventualmente, tenham relação com a água:
– Se houver alguma relação com a mudança de pH da água, o vapor pode irritar a pele, os olhos e o couro cabeludo.