Em 11 de março de 2013, ZH destacava, em sua versão online: "Corredores BRT irão transformar o trânsito de Porto Alegre". Cinco anos após o anúncio do sistema de trânsito rápido para o transporte público, a previsão se concretizou – mas não da maneira que se esperava. As obras do BRT (transporte rápido de ônibus), todas ainda inconclusas, apesar de terem sido prometidas para a Copa do Mundo de 2014, realmente mudaram o trânsito da Capital. Para pior.
No estado atual, os trabalhos complicam o trânsito, deixam corredores em obras vazios, obrigando os ônibus a disputar espaço com outros veículos, e dificultam a vida dos passageiros, que já se acostumaram com a lentidão e os constantes desvios de rota.
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A expectativa para este ano – o terceiro de obras tão somente de pavimentação do BRT – era de que, finalmente, o asfalto fosse substituído pelo concreto em todos os corredores a serem cruzados pelo sistema, garantindo maior durabilidade para a pista e evitando a trepidação dos veículos. Mas nem isso agora está garantido: com a dificuldade financeira enfrentada pela construtora Brasília Guaíba, o corredor da Avenida João Pessoa precisará passar por nova licitação. O edital deve ser publicado apenas no próximo semestre.
Nos demais corredores, os ônibus poderão voltar a circular ainda neste semestre, mas nenhum ainda está adequado à nova proposta. Por enquanto, nada de embarque rápido, ultrapassagem, veículos maiores, bilhetagem eletrônica, informatização de horários: o início da "operação BRT" em Porto Alegre será apenas em corredores com novo piso.
– Esta primeira fase é a mais traumática. Houve uma série de imprevistos que impediram que o cronograma fosse seguido. Mas o benefício vem a longo prazo, quando as obras forem finalizadas – afirma o secretário municipal de Gestão, Urbano Schmitt.
O problema é que o conceito de Bus Rapid Transit inclui muito mais do que corredores de concreto. Estão previstas ainda melhor infraestrutura e sistemas inteligentes (bilhetagem eletrônica, monitoramento de veículos, controle e informação ao usuário). Mas, por enquanto, sequer a primeira fase da etapa inicial está pronta.
A Secretaria de Gestão, responsável pelas obras da Copa, prefere agora nem estimar quando todo o sistema estará funcionando. Seguiram-se anos sem que o sistema, alardeado como a solução para a confusão no transporte público, conseguisse passar o primeiro sinal verde.
Somada aos atrasos, essa implementação adaptada acaba minando a confiança de estudiosos do assunto e da população em geral na eficácia do sistema em Porto Alegre – a que o especialista em transportes João Fortini Albano, pelas peculiaridades do caso gaúcho, dá o apelido de "BRTchê".
– Estamos retrocedendo em relação àquilo que é o BRT. Não estamos usando veículos maiores, permitindo ultrapassagens, nada do que o modelo clássico prevê. Não é só corredor, isso nós já tínhamos. Parece que Porto Alegre poderia atingir um nível 2, mas prefere para sempre ficar no 1 – pondera o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Revisão prevê menos "sofisticação"
Terminadas as obras de pavimentação, os próximos passos incluem a instalação de novas paradas de ônibus, a criação de terminais integrados e a adaptação do sistema viário para que as linhas de ônibus atuais passem a alimentar o sistema BRT, que deverá assumir boa parte das viagens na Capital. A bilhetagem eletrônica, com o objetivo de diminuir o tempo que leva cada embarque e desembarque, também está prevista.
Cada passo, porém, depende de novas licitações, e ninguém se arrisca a prever quando o sistema completo deve ser entregue à população. Ainda assim, nem tudo será entregue nos mesmos padrões que se previa. Consideradas "sofisticadas" pelo prefeito José Fortunati, as estações fechadas, repletas de tecnologia e com venda interna de passagens vão ficando de lado após constantes revisões feitas pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).
– O conceito geral permanece, mas estamos propondo alterações na arquitetura que são mais racionais. É como construir uma casa: você pode usar materiais caros, e gastar muito com isso, ou usar alternativas mais baratas para que a funcionalidade permaneça, mas saia mais em conta – afirma o engenheiro da EPTC e coordenador do projeto, Luís Cláudio Ribeiro.
Também os terminais com grandes espaços abertos para a circulação de pessoas e veículos vão perdendo apoio em troca de estruturas mais simples, bastante semelhantes aos terminais atuais – mudanças que, garante a EPTC, são mais racionais em relação ao orçamento disponível e ao uso do dinheiro público.