ZH traz duas visões sobre a repercussão das fotos tiradas por Milena Santos no gabinete de seu marido, Alessandro Teixeira, o novo titular do Ministério do Turismo: a do jornalista e escritor Igor Natusch e a do filósofo e professor Eduardo Wolf.
Leia abaixo a opinião de Eduardo Wolf.
O fato de estarmos falando sobre as fotos "ministeriais" da ex-Miss Bumbum e de seu marido, o petista ministro do Turismo, é a razão pela qual há um petista no Ministério do Turismo que tira fotos com sua mulher, ex-Miss Bumbum, em seu gabinete. Todo espaço que a sociedade abre à vulgaridade será ocupado pela vulgaridade. Da mesma forma, o fato de que a maioria das reações ao episódio ficou no registro do folclore, do humor simplório, é a razão pela qual uma nomeação mais indecente que as próprias fotos não é mais capaz de despertar na sociedade alguma reação política informada e digna, pois todo espaço que a sociedade abre à fisiologia ou à corrupção será ocupado pela fisiologia ou pela corrupção.
Não está claro por que razão Alessandro Teixeira, o marido da ex-Miss Bumbum das tais fotos, assumiu o Ministério do Turismo do tardiamente moribundo governo Dilma Rousseff. Prestes a ser afastada pelo Senado, Dilma nomeou seu ex-assessor especial na Presidência e ex-coordenador de programa de governo nas campanhas presidenciais para o cargo.
Terá sido por suas incríveis contribuições à área da economia – núcleo da fraude político-eleitoral cometida pelo PT, especialmente em 2014? Ou seria pelos incontestáveis serviços prestados à prodigiosa indústria brasileira em 2015, ano de desempenho "soberbo" e em que Alessandro Teixeira presidiu a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) – a respeito da qual, aliás, nada se diz de relevante na imprensa ou nos meios industriais há alguns anos? Corrijo-me: a imprensa relata, agora, que Alessandro Teixeira nomeou a tia da mulher para uma função de confiança na ABDI, com salário em torno de R$ 20 mil.
Esses fatos, entre outros talvez ainda mais graves, deveriam ensejar o debate público sobre sua nomeação a um ministério. A vulgaridade transbordante e a ausência de qualquer respeito pela liturgia do cargo roubaram a cena e bloquearam a discussão.
"Um sistema político pressupõe uma civilização", dizia o filósofo inglês Michael Oakeshott. O nosso sistema segue a civilização que soubemos, até agora, ser: leniente com a corrupção, entusiasta das informalidades e obcecada pelo vazio espetaculoso. Um outro sistema político não será feito por esses políticos, mas por outros valores que orientem nossa sociedade e animem outros políticos.