O feriado foi um dia marcado por bastante trabalho na limpeza da cidade. Na Escola de Educação Infantil Cantinho Amigo, 35 funcionários de uma cooperativa a serviço do município trabalharam para remover os galhos, deixando a instituição apta para abrir as portas aos professores nesta quarta-feira. Ao lado, na praça Garibaldi, outra equipe cortou troncos e galhos.
No apartamento na Rua Lopo Gonçalves, na Cidade Baixa, em Porto Alegre, o funcionário público Marcelo Cavalcanti da Silveira, 56 anos, viveu, até as 19h43min desta terça-feira, 93 horas à luz de velas desde a tempestade de sexta-feira. A comida que estragou na geladeira e as caminhadas que teve de fazer até a casa do filho, na Avenida Azenha, para recarregar o celular, eliminaram qualquer possibilidade de romantismo.
Ele era um dos 3 mil clientes da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) que ainda estavam sem luz na terça-feira, sendo 390 destes desde a noite do temporal. Como as bombas da caixa dágua do prédio onde mora não funcionam sem energia, estava sem água também. Carregando bombonas, ele descia e subia três lances de escada para buscar água na caixa do térreo e levar ao apartamento.
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O funcionário público conta que até segunda-feira toda a rua estava sem luz. A energia foi restabelecida para parte dos moradores, mas ainda havia prédios sem fornecimento na terça-feira. Conforme Silveira, os vizinhos que puderam foram dormir na casa de familiares:
- A gente tem algum recurso. Não é que nem na região das ilhas, onde a situação é mais complicada. Mas a gente se sente impotente.
Compras só para o dia ou alimentação fora de casa
Segundo balanço divulgado pela CEEE na tarde desta terça-feira, os bairros com maior número de clientes sem fornecimento eram Azenha, com 634 pontos desassistidos, Santana, com 306, e Menino Deus, com 1.036 - bairro onde a aposentada Edi Machado, 62 anos, só teve a energia de casa restabelecida às 17h30min.
Moradora da Avenida Getúlio Vargas, Edi conta que a maior dificuldade foi o armazenamento de alimentos. Desde sexta, a aposentada e a irmã comeram fora ou foram ao mercado fazer compras apenas para o consumo diário, sem permitir sobras. Nos primeiros dias, chegaram a perder feijão, arroz e lentilha que já haviam preparado - produtos como frios e manteiga levaram para uma vizinha. O calor foi outro transtorno.
- À noite, não dava para fazer nada, nem ligar o ventilador - diz.
O filho de uma sobrinha de Edi, Fernando Carvalho Macedo, cinco anos, mora com a mãe no mesmo prédio. Ele não se importou com a iluminação em si - parecia feliz com sua lanterna em forma de espada -, mas sentiu falta do ar condicionado e dos desenhos na TV.
Conforme a CEEE, nos casos em que ainda falta luz, a principal causa é a permanência de árvores sobre fios de alta tensão. Primeiro é preciso fazer a retirada. Diretor de Transmissão da companhia, Júlio Hofer afirma que todo o serviço deveria estar normalizado até a noite desta terça-feira, mais tardar no decorrer da quarta-feira.
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