A geladeira transformada em biblioteca comunitária na calçada da Rua Portugal ganhou companhia. Diante da falta de espaço para tantas doações, um micro-ondas e um fogão, igualmente coloridos, foram instalados para abrigar as obras, e quando se deu conta a microempresária Viviane de Melo havia montado uma cozinha cultural para os moradores do Higienópolis.
Ela destaca que o objetivo da "geladoteca" era incentivar o troca-troca de livros - qualquer um pode retirar um livro e deixar outro. Mas descobriu que os eletrodomésticos quebrados também teriam o poder de aproximar a vizinhança. Em um domingo de dezembro, cerca de 40 moradores participaram de um encontro ao redor da geladeira:
- Remeteu ao passado, isso de vizinhos se encontrarem, se conhecerem e confraternizarem, coisa que é difícil hoje em dia em uma cidade grande. As pessoas levaram cadeiras, chimarrão, e até espumante teve no final, para brindar as coisas não pagas da vida - como nossa geladoteca e agora a cozinha literária.
No final da plataforma, uma biblioteca para se perder antes do embarque
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A especialista em design Vanessa Johnson, 44 anos, apaixonou-se pela iniciativa e passou a bater perna por Porto Alegre em busca de doações de livros para a geladoteca. Graças ao projeto, foi iniciada na cultura do desapego:
- Eu libero meus livros, e eles podem servir para outra pessoa. Não fico: ai porque teve essa dedicatória. Passou, é passado.
Outra voluntária apaixonada pela biblioteca é Nina Alves Moraes, que tem apenas oito anos. Ela costuma ir ao local para colocar em ordem a geladoteca, e volta e meia faz bons flagras.
- Eu venho aqui e ajudo a arrumar. Vejo pessoas muito felizes com seus livros - diz.
Nina conta que, certa vez, colocou uma caixa com cinco livros, e eles sumiram no outro dia. Também já aproveitou para emprestar uma obra, que contava a história sobre trigêmeas.
Nina só tem 8 anos, mas já é uma voluntária da Geladoteca. Foto: Jéssica Rebeca Weber/ Agência RBS