Muito antes de Wall Street e dos pregões eletrônicos, a Holanda experimentou a primeira bolha especulativa do mundo. Mas o que era negociado não eram ações, nem imóveis, mas flores. Não era qualquer flor, mas o bulbo de tulipas ainda não plantados. Criou-se assim um mercado de títulos futuros. Um bulbo de Semper Augustus, considerada a mais linda das tulipas, chegou a alcançar o preço de uma casa elegante. Isso até o mercado quebrar - ou a bolha estourar - e o título virar pó.
No século 17, a Holanda vivia a sua Idade de Ouro. Depois de se libertar da dominação espanhola e tornar-se uma república, os recursos do país foram canalizados para o comércio, dando origem a grandes fortunas. Houve um florescimento das ciências e das artes.
A incipiente classe de mercadores se concentrava no lucrativo comércio das Índias orientais, nos quais uma viagem podia produzir um lucro de 400%. A nova burguesia exibia seu sucesso através da encomenda de quadros e da construção de casas de campo. Estas eram cercadas por jardins de flores, entre as quais a tulipa era a mais prestigiosa.
Ao se tornarem a maior potência econômica e marítima do mundo, os Países Baixos estendiam sua influência a vários continentes. Amsterdã passou a ser um importante centro comercial e financeiro para o qual acorriam pessoas de diferentes lugares. Muito dinheiro circulava nessa cidade. E onde há dinheiro, há especulação financeira.
Foi aí que surgiu a "loucura das tulipas" ou "tulipomania", a primeira bolha financeira do mundo. Pessoas endinheiradas começaram a comprar e vender bulbos de tulipas, várias deles ainda não plantados, como forma de investimento.
As tulipas foram trazidas da Turquia para a Holanda no século 16 e se tornaram extremamente populares. O termo tulipan tem sua origem na palavra turca "Tulbend", que significa turbante e, por sua forma, faz referência a esse adereço utilizado pelos otomanos.
Elas são plantas ornamentais com uma única flor em cada haste. Existem cerca de cem diferentes espécies, de variadas cores, fruto de sucessivos cruzamentos entre elas. As tulipas se adaptam bem ao clima frio da Holanda e crescem a partir de um bulbo que produz uma única floração durante o ano, no início da primavera. Até hoje, a tulipa é um produto exportado para o mundo todo e símbolo do país.
No século 17, as tulipas tornaram-se objetos de desejo. A natureza das tulipas contribuiu para diminuir sua oferta e torná-las mais valiosas. Seu bulbo não pode ser produzido rapidamente, levando de sete a 12 anos até gerar tulipas. Isso fez com que houvesse uma oferta reduzida e uma procura elástica. Como os bulbos eram raros e muito desejados, seus preços começassem a disparar. No auge da especulação, um único bulbo podia alcançar o preço equivalente a mais de dez vezes a renda anual de um artesão qualificado. Houve uma oferta de 12 acres de terra por um único bulbo de Semper Augustus.
Muitas pessoas vendiam propriedades para comprar tulipas. Contratos futuros de bulbos ainda não colhidos começaram a ser assinados na frente de tabeliões. Do começo da especulação até seu colapso, o número de bulbos raros que trocaram de mãos nunca passou de seu número inicial. Os holandeses chamavam esse tipo de comércio de "Windhandel", isto "comércio de vento".
Em 1636, as tulipas se tornaram o quarto principal produto de exportação da Holanda, depois do gim, do arenque e dos queijos. Mas, no começo de 1637, os preços despencaram abruptamente, como acontece em bolhas financeiras. Muitas pessoas fizeram e perderam fortunas da noite para o dia. Até hoje, os economistas discutem a lógica desse fenômeno. Outros cientistas o consideram um caso de comportamento coletivo irracional. Várias histórias são contadas sobre a loucura das tulipas. Uma delas menciona um marinheiro que confundiu um bulbo de tulipa na casa de um mercador com uma cebola e o comeu. O custo do "lanche" seria suficiente para alimentar toda a tripulação de um navio por 12 meses.
E o pior é que o gosto de bulbos é ruim
*Ruben George Oliven escreve mensalmente no Caderno PrOA.
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