Convencido de que os incêndios em coletivos na noite de terça-feira foram ordenados de dentro da cadeia, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, clama, novamente, por um pedido de socorro à Força Nacional de Segurança, afirma que o narcotráfico é um estado paralelo e chama os presídios de "casa da mãe Joana".
Qual a garantia que o senhor tem de que partiu de presídio a ordem para incendiar ônibus?
José Fortunati - Não tenho garantias. O que tenho são informações prestadas por membros da própria segurança do Estado, com os quais tivemos contatos na noite de terça-feira, tentando entender o processo. Obviamente que essa afirmação terá de ser dada pela Secretaria Estadual de Segurança. Queremos que a secretaria possa apontar a verdadeira causa e, a partir da verificação da causa, é muito mais fácil combater o problema.
O secretário de segurança acredita que houve uma reação ao confronto que resultou na morte de um criminoso...
Fortunati - O importante a destacar é que foi o ataque mais grave ao transporte público de Porto Alegre e à população sofrido ao longo de sua história. Independente da origem de quem organizou, a população está amedrontada, não só a Zona Sul, a cidade como um todo. Precisamos tomar medidas. O governo hoje tem dificuldades de contratar mais PMs. Então, por que não solicitar que a Força Nacional venha como força acessória da BM. Para que, durante um determinado tempo. possamos ter um choque de segurança, combatendo, especialmente, o narcotraficante. Até 2012, 2013, Santa Catarina sofreu, medidas foram tomadas e os incêndios pararam. Então, temos de seguir esse exemplo.
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O pano de fundo é narcotráfico?
Fortunati - Não tenho dúvida de que o fundo dessa violência toda, não só neste caso, e também nos anteriores, envolve de forma muito direta o narcotráfico. Então, com Força Nacional, Polícia Federal, Brigada Militar, Polícia Civil, temos de ter uma ação conjunta para combater o narcotráfico. A origem de toda essa violência é única: o narcotráfico.
A secretaria admitiu pedir ajuda à Força Nacional em presídios. Resolveria?
Fortunati - A Força Nacional tem expertise muito grande, desde a segurança em presídios até determinada áreas conflitadas. A Secretaria Estadual de Segurança deve determinar o que é mais importante. Agora, eu estou disposto, disse isso ao governador, de ir à presidência da República, junto ao governador, conversar, dialogar sobre isso. O que me parece fundamental é que uma tomada de decisão não pode ser para o mês que vem. A cidade precisa de uma decisão imediatamente. O choque de segurança é para hoje. Isso é fundamental. A cada novo ato, é um ato mais complexo, trazendo mais violência. Para estancar isso: choque de segurança.
A possibilidade de a Força Nacional ir para a Penitenciária Estadual do Jacuí seria suficiente?
Fortunati - Eu diria que, pelo menos, começa a se admitir pela primeira vez a presença da Força Nacional no Rio Grande do Sul. Acho que é o início, mas, para mim, não responde de forma plena. Gostaria de ter, além de nos presídios a Força Nacional, termos, especialmente, na zona sul de Porto Alegre. Em especial em alguns locais onde, claramente, o narcotráfico está muito mais presente. A presença da Força Nacional com a Brigada Militar nestes locais daria uma segurança muito maior uma segurança para a população de Porto Alegre.
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Porto Alegre está fora de controle em termos de segurança?
Fortunati - Não. De forma alguma. Porto Alegre tem uma segurança operada pela Brigada Militar, pela Polícia Civil, com órgãos de segurança e com apoio da Guarda Municipal. Temos 1.090 câmeras operando na cidade, enquanto o Rio de Janeiro tem apenas 650, cidade cinco vezes maior. O grande problema é que o narcotráfico atua em todo país de forma muito consistente. Então nós temos que retomar as rédeas plenas de segurança em Porto Alegre.
O senhor fala em retomar as rédeas. Mas, então, neste momento, não estão sob controle?
Fortunati - Do ponto de vista do narcotráfico, não. A cidade tem controle sobre todas as demais áreas, com exceção do narcotráfico. E não é só em Porto Alegre, não é no Rio Grande do Sul. O narcotráfico é um estado paralelo, em relação ao estado de direito. Então temos de retomar as rédeas no que diz respeito ao narcotráfico.
O senhor diz que os presídios são casas da mãe Joana?
Fortunati - Casa da mãe Joana porque até todo momento imagens mostram que circulam celulares de forma plena e ampla. Me perguntavam por que isso não acontece nos Estados Unidos? Porque lá há muito mais do que bloqueio de sinal, há uma política que impede a entrada de celulares nos presídios. Aqui essa política precisa ser aperfeiçoada.
* Zero Hora
Entrevista
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