Se buracos em vias não são novidade em Porto Alegre, a temporada de chuvas que marcou o mês de outubro colaborou para acentuar obstáculos à circulação em vários pontos da cidade.
Sentado em um banco próximo ao seu negócio, uma banca de chaves na Rua São Manoel, Erni Silva dos Santos contempla a cratera que já alcança a largura da faixa de estacionamento à esquina com a Av. Protásio Alves. O chaveiro, que trabalha no local há 40 anos, sente-se íntimo do buraco, que surgiu no local há cerca de três meses, ainda "pequeno, do tamanho de uma roda". O fluxo intenso de veículos na via contribuiu para aumentar as proporções do estrago.
- Pensei em comprar um bolo para comemorar, porque está fazendo aniversário. E abriu ainda mais com a chuva - conta o senhor de 64 anos, que usou galhos para demarcar o buraco até a terça-feira, quando técnicos do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) estiveram no local para verificar o problema.
- Aqui passa muito cadeirante. Fiquei com medo que alguém de cadeira de rodas fosse descer e não visse - diz.
Conforme o DEP, técnicos trabalham no local desde a manhã desta quarta-feira para identificar o problema na rede. Não há previsão para conclusão dos trabalhos.
Na Avenida Praia de Belas, pedestres e motoristas têm que desviar de trincheira
Foto: Bruna Vargas, Agencia RBS
Na Avenida Praia de Belas, pedestres e motoristas contornam, há cerca de duas semanas, uma trincheira que se formou perto da Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto. Isolado com faixas do DEP, o buraco, com água e sujeira, surpreende até quem o vê todos os dias.
- Nunca tinha visto um buraco assim. Ele tem água do esgoto do prédio e só aumenta com a chuva - diz Paulo Roberto Fagundes Nunes, secretário da Loja Maçônica há 25 anos.
O prédio espelhado onde Paulo trabalha perdeu o estacionamento com o crescimento da fenda, que avançou sobre a calçada. Os frequentadores do local têm deixado os carros em estacionamentos pagos na via.
Segundo o DEP, a rede de drenagem do trecho, que escoa para o Arroio Dilúvio, será invertida para evitar acúmulos de água na via quando o riacho enche. Após a obra, as águas captadas pelas tubulações serão ligadas na galeria pluvial da Avenida Aureliano de Figueiredo Pinto e encaminhadas para a Casa de Bombas 16, na Avenida Beira-Rio. O projeto de drenagem está sendo elaborado e a previsão é de que a obra comece em um prazo de 15 a 20 dias e tenha duração 60 dias.
Entroncamento na Rua Ivo Corseuil foi sinalizado pelos vizinhos para alertar motoristas
Foto: Bruna Vargas, Agencia RBS
Já no entroncamento da Rua Ivo Corseuil com a Rua Sacadura Cabral, no bairro Petrópolis, uma espécie de espantalho urbano improvisado com galhos e caixas de papelão serve de alerta quem circula por lá, onde um buraco profundo estreita a área de circulação na pista. Segundo a vizinhança, o buraco abriu com as chuvas, na semana passada. Até terça-feira, o local ainda não tinha sido demarcado pela prefeitura.
- Meu colega pegou galhos no mato para colocar ali, porque está perigoso. Alguém ainda vai deixar um eixo nesse buraco - aponta o comerciante Girlei da Rosa, dono de um mercadinho em frente ao entroncamento.
Enquanto a poder público não aparece, o lixo tem evitado acidentes. Muitos motoristas, ao passarem pelo local, atravessam a demarcação do entroncamento, passando por cima para desviar da fenda.
O buraco ainda não tem dono. Segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), responsável por sinalizar o local danificado e avisar ao órgão responsável sobre o problema, agentes de trânsito já foram avisados e devem ir à Rua Ivo Corseuil nesta semana.
Orçamento restrito pode empurrar obras do DEP para 2016
O horizonte dos reparos nas vias esburacadas após a chuvarada na Capital está cada vez mais distante de 2015. Isso porque, segundo o diretor do DEP, Tardo Boelter, o departamento está com o orçamento apertado em função do fim do ano e de gastos imprevistos com estragos provocados pela chuva.
- Nossos contratos estão todos estourados, sem saldo. Tudo que é emergencial será resolvido até o fim do ano. Os demais podem acabar indo pra janeiro, para pegarmos a virada do orçamento - diz Boelter.
De acordo com o DEP, há cerca de 15 equipes trabalhando na identificação e conserto dos problemas nas vias de Porto Alegre. A prioridade são os reparos em casas de bombas, seguidos de problemas mais graves, que afetem a mobilidade urbana.
Uma força-tarefa trabalha, ainda, em pontos alagados da Capital, nos bairros Guarujá, Anchieta, Lami, Nazaré e na Rua Voluntários da Pátria.