As mulheres que relataram ter sido agredidas por policiais militares na noite de domingo, em Porto Alegre, devem fazer hoje à tarde denúncias formais junto à Corregedoria da Brigada Militar (BM), ao Ministério Público e às comissões de defesa dos direitos humanos da Câmara de Vereadores e da Assembleia Legislativa.
Participantes da Feira do Livro Feminista e Autônoma (FLIFEA) contam terem sido abordadas por brigadianos "extremamente agressivos", que atendiam a queixas de vizinhos por conta do barulho na praça João Paulo I, entre a Avenida Jerônimo de Ornelas e a Rua Santa Terezinha, no bairro Santana. Imagens anônimas que circulam nas redes sociais mostram a ação.
Segundo o grupo, os policiais teriam desferido golpes em mulheres que filmavam a abordagem, deixando nove feridas - quatro delas precisaram de atendimento médico. Conforme o comandante do 9º Batalhão da Brigada Militar de Porto Alegre, tenente-coronel Marcus Vinicius Gonçalves Oliveira, o grupo teria tentado "investir" contra os policiais, que chamaram reforço. Consta no histórico da ocorrência que houve uso de força moderada para conter agressões.
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Zero Hora conversou por telefone com uma das mulheres presentes no momento, que não quis ser identificada. Confira os trechos da entrevista:
O que estava ocorrendo quando a polícia chegou?
Estava sendo realizado um ensaio de teatro para uma marcha de encerramento da feira. As participantes iriam caminhar com imagens de violência contra a mulher. Seria uma marcha totalmente pacífica. Durante o ensaio, chegou uma viatura com dois policiais, que nem conversaram direito, foram violentos com uma das meninas, mandando ela calar a boca e a ameaçando ela com arma de fogo.
As manifestantes relatam a chegada de dezenas de policiais. Foi isso mesmo?
Sim. Quando eles ameaçaram a menina, as demais se assustaram e fizeram muito barulho em protesto. Alguns vizinhos viram o que estava acontecendo e desceram para ajudar. Outros estavam reclamando do barulho e acredito que foram estes que chamaram a polícia em primeiro lugar. Logo depois que a primeira viatura foi embora, voltaram seis delas, com cerca de quatro policiais em cada uma. Havia em torno de 30 mulheres, e mais de 20 policiais, completamente desproporcional para o que estava acontecendo.
Algumas mulheres ficaram feridas gravemente?
Sim. Na correria, algumas meninas caíram e outras vinham para ajudar. Estas que chegavam para ajudar eram agredidas a cacetadas pelos policiais. Eles batiam na cabeça, nos braços. Havia uma menina grávida que não conseguiu correr como as outras. Ela gritava que estava grávida, pedia calma, mas eles não escutaram, saíram batendo. Tivemos nove feridas, sendo quatro delas gravemente, com cortes na boca, na cabeça e braços quebrados. Hoje os advogados irão encaminhar uma denúncia contra a BM em todas as instâncias. Vamos encaminhar o caso às comissões de defesa dos direitos humanos do município, estado e também federal.
Às 18h de hoje, um grupo em solidariedade deve realizar manifestação em frente ao Palácio Piratini contra a violência. No evento do Facebook intitulado "Mexeu com uma, mexeu com todas", elas dizem que a "brutal violência" da Brigada Militar "impõe a todas e todos uma reação imediata e firme, que manifeste nosso repúdio total a esse tipo de barbárie".
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Cerca de 300 pessoas participaram de um protesto contra ação policial na segunda-feira. Foto: Reprodução/Facebook