Família de Isabel dorme em Kombi
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS Faleiro ocupa interior de ônibus escolar
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS Marion divide espaço entre 21 familiares
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS
A fim de fugir da cheia do Guaíba sem perder de vista suas casas alagadas, vítimas da enchente transformaram veículos em moradias improvisadas na região das ilhas de Porto Alegre.
Além de se acotovelar em colchões colocados dentro de um ônibus e de uma Kombi, os refugiados se amontoam em barracas de lona e sob o viaduto da BR-290 na Ilha Grande dos Marinheiros - uma das regiões mais atingidas pelo avanço das águas. Nesse local, onde estão vivendo há 10 dias, não têm energia elétrica, tomam banho de bacia e abrigam desde bebês até idosos.
O pequeno Éder tem apenas dois meses e já conhece a dureza da vida como poucos. Mal saído do ventre materno, passa os dias no colo ou recostado em uma cadeirinha de bebê e as noites deitado em um colchão compartilhado com os pais e um irmão de dois anos em uma Kombi estacionada junto ao viaduto. O veículo foi emprestado por um comerciante da região depois que a água obrigou a família a sair de casa. Exposto às variações do clima, o menino está resfriado.
- Ele chora bastante. Às vezes, chora quase toda a noite e só quer colo. Deve estar estranhando a escuridão também - conta a mãe, Isabel Cristina da Silva.
À noite, os desalojados acendem velas e pequenas fogueiras. Quando se aproxima a hora de dormir, os fogos são apagados e não se enxerga mais nada. Em um barraco de lona erguido ao lado da kombi, dorme o filho mais velho, de 15 anos, e fica o fogão também cedido por empréstimo e utilizado para cozinhar alimentos trazidos pela Defesa Civil ou doados por particulares. A única coisa que tiraram de casa foram algumas roupas.
- Para tomar banho, o jeito é usar uma bacia. Não vejo a hora de sair daqui - lamenta Isabel.
O que mantém a maioria dos refugiados no local é o medo de se afastar das casas inundadas - ou do que sobrou delas - e de sofrer saques dos poucos pertences que resistiram à água. Por isso, se recusam a ir para o abrigo montado pela prefeitura no Ginásio Tesourinha.
Mesmo vítima de um enfisema pulmonar e em tratamento contra um câncer, Pedro da Rosa Faleiro, 79 anos, prefere morar em um ônibus cedido pela empresa na qual o genro trabalha. Como o veículo utilizado para fazer transporte escolar nas ilhas está fora de operação em razão da enchente, virou casa e hospital. No corredor do veículo, Faleiro permanece deitado e conectado a um tubo de oxigênio que lhe ajuda a encher os pulmões. Dorme espremido entre as fileiras de bancos e não toma banho desde que saiu de casa.
- O corpo da gente se sente mal dentro da roupa. Chega a espinhar - relata.
O ônibus abriga ainda a mulher do idoso, a filha, o genro e três netos - uma menina de oito anos e dois gêmeos de 15 anos. Dividem espaço com lembranças da antiga vida à margem da água: uma TV, roupas, algumas panelas e uma flauta de plástico. Das janelas do veículo, observam a antiga casa cercada pela enchente.
Parte dos desalojados montou barracas com auxílio de lonas cedidas pela Defesa Civil. Em uma delas, 21 familiares de Marion Rodrigues, 49 anos, dividem o espaço. Sob uma mesma cobertura, montaram duas barracas que funcionam como quartos separados e reservaram uma área livre que funciona como cozinha, durante o dia, e mais um dormitório à noite. Ali se refugiam 13 crianças e oito adultos. Como faltam brinquedos, os meninos e meninas se divertem correndo pelo chão batido.
- Faltam brinquedos, e a gurizada fica correndo para lá e para cá. O medo é de que alguma delas vá para a rodovia - conta Marion.
Enquanto as crianças se divertem como pode, Marion observa a água que inunda as ilhas da Capital e aguarda a hora em que, enfim, voltará para casa - ou o que sobrou dela.
#EuAjudo - COMO DOAR
- São necessários alimentos, garrafas de água, produtos de higiene (xampu, desodorante, escova de dente, absorventes e fraldas geriátricas), produtos de limpeza (sabão em pó, esponjas e panos), lonas e velas.
- Esses materiais podem ser entregues no Ginásio Tesourinha (Avenida Erico Verissimo, s/nº), das 8h às 22h, ou no Gabinete de Defesa Civil (Rua Dr. Campos Velho, 426 ), das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira.
- Doações para a reconstrução das casas (móveis, telhas, lonas e madeira) devem ser entregues na sede do Demhab (Av. Princesa Isabel, 1115), das 8h às 20h, de segunda-feira a sábado (no sábado, a entrega deve ser feita pela entrada lateral, na guarita da Rua Conde D'Eu).