Lena Cavalheiro é arquiteta e urbanista e uma das fundadoras do movimento Cais Mauá de Todos
Qual é a alternativa possível nesta fase do projeto?
O poder público precisa entender que está sendo autoritário e impositivo, levando adiante um processo que, evidentemente, não está claro. Nos mostrem o projeto, nos digam como será o shopping, nos digam em quais áreas as pessoas estarão proibidas de circular. Vamos fazer um plebiscito, ouvir a população. E, por favor, como podem gastar apenas 10% do orçamento nos armazéns, que são o principal?
(R$ 43 milhões dos R$ 500 milhões investidos serão destinados aos armazéns.)
"Por que não apresentaram um projeto?", questiona responsável pelo consórcio que fará a obra do Cais do Porto
Qual seria a maneira de tornar o projeto economicamente viável?
Já que o custo é tão mais baixo, talvez pudessem revitalizar apenas os armazéns, sem o shopping e sem as torres. Além de cobrarem a locação dos permissionários, poderiam firmar, por exemplo, uma parceria com o Sistema S, levando unidades do Senac e do Sesc aos armazéns, o que garantiria uma variedade de público. Outra possibilidade é unir-se a um banco, quem sabe, que financiasse algum tipo
de museu.
Com essa crise, o Sistema S deve perder 40% da receita nos próximos dias...
Eu sei. Mas é necessário quebrarmos um pouco a cabeça. Não creio que haja uma solução única, podem ser várias. Há uma série de garagens, edifícios vazios e terrenos ociosos, inclusive do Exército, do lado de lá da Avenida Mauá. E se pensássemos em desapropriá-los, cedendo-os à iniciativa privada? Poderia ser uma alternativa para as torres serem erguidas fora do cais. Precisamos de um plano de gestão que viabilize uma ocupação mais sensata.
Mas com o contrato já assinado, prevendo torres e shopping, há esperança dessa reviravolta?
Olha, eles apresentaram à imprensa um projeto que previa o rebaixamento da Mauá, tinha uma boa área verde sobre a avenida, e agora mudam tudo e a população mal sabe como é? Nós achamos que uma cidade se faz com pluralidade, com pessoas variadas e interesses variados, mas o consórcio parece apontar para um único público, que frequenta hotel de luxo, restaurante e shopping. Sei que o nosso ideal está distante da realidade atual, mas, até que haja um mínimo de transparência, vamos seguir mostrando que poderia ser diferente.
Leia a reportagem completa: Quem são e do que reclamam os críticos do projeto de revitalização do Cais Mauá