Contrariando a obviedade, um grupo de moradores de Ipanema torce para que faça tempo ruim na beira do Guaíba. Com chuva, as festas que têm tirado o sono de quem vive no local não acontecem, e eles podem descansar. A situação, que ocorre há alguns anos, se agravou com a operação-padrão da Brigada Militar.
Segundo os moradores, a presença da polícia costumava coibir as "raves" no calçadão, mas, nos últimos meses, o abandono da área pelas autoridades de segurança fez a situação perder o controle.
Vídeos gravados por integrantes da Associação Ipanema Eu Moro Eu Cuido mostram, em diferentes horários do dia e da noite, som em volume alto, carros acelerando motores e grupos de jovens bebendo nas calçadas. O foco principal do barulho é entre as ruas Laranjeiras e Oswaldo Cruz, com maior concentração em frente ao bar Radical.
Ondas avançam sobre o calçadão de Ipanema
A situação que incomoda, segundo Waneza Vieira, presidente da associação, é o desrespeito aos horários de descanso e a criminalidade que surge em decorrências das festas:
- Flagramos situações no final de tarde, madrugada e início da manhã. Tem um grupo que faz uma espécie de rave. É uma selvageria. Carros de som ficam das 23h às 7h. Eles unem direção e álcool, fazem rachas na beira do Guaíba. Os moradores se tornaram reféns dessa situação. É impossível dormir com os gritos - afirma ela.
Além do barulho, o publicitário Dayan Golanski diz que a falta de sossego se dá pela existência de tráfico de drogas, prostituição e roubo de carros.
- Essa zona é nobre, poderia ser melhor explorada pelo turismo, mas esse tipo de situação afasta investimentos e visitantes - diz.
Mobilizados, Waneza e vizinhos se reuniram com a BM na tarde desta quarta-feira e pediram que a polícia volte a realizar patrulhamento no local. A associação se propôs a custear a construção de um novo posto para os brigadianos. Segundo Waneza, a prefeitura cedeu uma área na Avenida Guaíba, esquina com a Rua Pirajá. Para a obtenção dos materiais, a associação pretende fazer um rateio. Falta o departamento de obras da BM detalhar o projeto e garantir a permanência de policiais na área.
Contatada por Zero Hora, a Brigada Militar não quis se manifestar. Em off, brigadiano encontrado pela reportagem nas imediações do local que prefere não se identificar afirmou que, nas madrugadas dos finais de semana, a polícia é acionada, mas, ao se aproximar, os carros baixam o volume do som. Além disso, segundo ele, com a operação padrão, a BM só atende casos de crime à vida e lesão corporal.